Praticam biblioterapia
Outro dia, como diz a frase publicitária, «vamos para fora cá dentro», comprometido com a casa das histórias. Não paro de conferir na janela o céu da minha cidade, no jardim as crianças brincam no parque infantil, os velhos apanham o sol, aquecem os ossos mirrados de anos a fio a suportarem andamentos, movimentos e pesos de uma existência de miséria ou de abundância. As mães conversam umas com as outras, não deixando uma vez por outra de olhar para o lugar onde as crianças dão gargalhadas, correndo atrás umas das outras. Também os há sentados e deitados ocupando exageradamente os bancos compridos que praticam biblioterapia, lêm ausentes e despreocupados ao que os rodeia. Só as anti-aéreas apontadas ao mesmo céu que eu não me canso de olhar, protegidas por um descomunal conjunto de sacas de areia a encurralar os militares que as manuseam, colocadas em locais estratégicos estão a mais, as entradas dos edifícios públicos estão protegidas por sacas de areia até à altura de um homem, militares armados verificam quem entra e sai. Aqui as salas estão cheias de leitores, uns entram e saiem defraudados por não poderem levar a história cujo título «A segunda guerra mundial: uma história essencial». A narrativa analisa o choque que a guerra teve na vida quotidiana das populações. «The Battle of Britain: The Greatest Air Battle of World War II, Richard Hough, W. W. Norton, 2005» também é um dos títulos solicitados, tudo isto para se ajustarem ao novo modo de viver com o que nos está a acontecer actualmente nos nossos dias, a Grã-Bretanha é um bom exemplo para podermos continuar imperturbados, assim dizem os políticos. Um som familiar chega-me aos ouvidos, levanto-me novamente, da janela perscruto a sobrevoar lá bem cima uns pontos minúsculos, nos ouvidos o soar aparenta ser de mosquitos a ziguezaguear de um lado para o outro, mas não passa de uma esquadrilha de aviões de combate a patrulhar, não vá algum bombardeiro inimigo surgir de surpresa. Quando assim é tocam as sirenes e os sinos das torres das igrejas da cidade, aí vamos todos para os abrigos, não há necessidade de ficarmos aprisionados em casa a ver e ouvir as notícias do momento.