Quantas vezes...
A temperatura amena retirou o velho de sua casa. O banco instalado no pequeno largo da aldeia da Amoreira é o mais apetecido logo depois do almoço. O sol dá asas à sua alegria neste espaço insuficiente aos automóveis que circulam. A biblioteca ambulante e uma ou outra viatura para descargas de mercadorias é o que basta para estreitar o local. Exceptuando um ou outro, as histórias para estes daqui são menos desejadas que o sol, o banco de um modo geral tem mais gente a ocupa-lo do que aqueles que frequentam a biblioteca. Não aprenderam que as histórias os podem aquecer assim como o sol, não sabem que as palavras são os raios que nos espicaçam, nos põem a mexer. Quantas vezes após uma leitura não nos colocamos nalgum personagem e tentamos ir ao encontro dos lugares que visita. Lugares, muitos deles nossos conhecidos aos quais não damos importância, mas basta um qualquer pormenor, um olhar diferente, lido numa história, para nos gerar imediatamente a curiosidade de voltar e empregar esforços noutro olhar. Assim como os raios do sol, as palavras também nos ferem, atigem de tal maneira que nos modificam, podemos vir a ser melhores ou piores pessoas, depende da interpretação que cada um fizer das mesmas.