Sem saberem bem o que procuram
O rio vazou, sem encalhar a biblioteca ambulante progride nos meandros asfaltados do curso da estrada que a conduz nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, à aldeia do Crucifixo e ao Tramagal. Até o rio já amansaram, os patos Mandarins que se espraiavam de manhã bem cedo nas margens, lavando a penungem, aproveitando os primeiros raios solares para se aquecerem, não se avistam. Os peixes acompanharam a descida abrupta das águas, evitando assim ficarem atolados no lodo do leito do rio. Ficou o cheiro nauseabundo do apodrecimento das algas e de restos poluentes ali depositados. Não querem ouvir o grito de revolta, da natureza, de quem assiste calado, impotente, ao mesmo tempo esperançoso no regresso de águas libertas de toxidade, transparentes, consentindo o retorno dos peixes nadando, dos patos mergulhando, de homens flutuando, movimentando os seus membros espontaneamente. Com estes pensamentos decalcados, volto ao calor da tarde, enquanto a biblioteca ambulante estaciona. Na sombra, na suave corrente de ar desenvergonhada que passa, a pequenada vira as páginas das histórias, alguns sem saberem bem o que procuram, caracteres desconhecidos, ilustrações representado figuras conhecidas, tudo isto ainda baralha um pouco, mas é o princípio, para eles e para a biblioteca ambulante.