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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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O chão no largo do Cabrito está cheio de sombras, fios de telecomunicações cruzam-se, na diagonal, paralelamente. Trocas de informações, estabelecem relações na tela negra do alcatrão, correspondências do mundo inteiro, atravessam o largo distante de tudo. Local de entendimento através dos diálogos, conversas nas duas esplanadas, dos dois cafés. Palcos do sussurro do vento, dos mexericos das gentes locais. O largo também é passagem de um local para outro, não tem fim a quantidade de veículos a transitarem. Pessoas a movimentarem-se, a trabalharem. Automóveis com as rodas a chiarem, desejos que o tempo passe depressa. De noite as sombras continuam no largo, empurradas pelo vento, assustam os mais distraídos, impõem respeito aos atentos. Sombras mensageiras, trazem histórias, levam outras. Sombras dos leitores que não vieram à biblioteca ambulante. Sombras das personagens das histórias, vagueando à noite no largo, capturando palavras, agonias, gritos de prazer, choros, solidões. Regressam às páginas, disponíveis para continuarem nas histórias, dando folga à caneta do escritor. Sombras que nos protegem do sol de verão, implacável no largo. Sombras que nos abrigam, defendem da ignorância. A biblioteca ambulante, as histórias, matam a sede na sombra da fonte. Matam a falta de conhecimentos básicos, venham à fonte, bebam até saciarem a sede de viver.