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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Os primeiros alvores anunciavam o que seria a temperatura, que incomoda ao início desta tarde. Está calor, parece verão, não se despediu há muito de nós. Deixou para trás uma sensação produzida pela acção do sol, um simpático nível térmico, a roçar o exagero, na estação meteorológica em que estamos. Depois de uns dias mais frescos, com alguma chuva à mistura, voltar aguentar tudo outra vez, o calor, a melancolia, o desalento, do tempo a correr devagar debaixo de um (...)
Há acessibildade para todos na biblioteca ambulante, foi o que fizeram estes novos leitores na via que os conduziu à floresta de papel. Viram a fauna, cheiraram a flora, tocaram  nas árvores, na textura do papel. Emocionaram-se com a vida a acontecer nas suas mãos, foram abraçados pela história lida pela Celeste. Momentos mágicos ocorreram na sala enorme, onde couberam todos para envolverem a esperança, a igualdade na leitura. Um abraço.
Na rua, as mulheres atravessam-na, como se tivessem todo o tempo disponível do dia para percorrem a pé, o arruamento que termina no miradouro, situado sobre uma das extensões do rio Zêzere. Uma paisagem deslumbrante a perder de vista. Até lá, a correnteza de casas, algumas, simplesmente, com gente nas férias de verão, vêem as mulheres a palmilhar a distância. Uma delas apoiada num pau comprido, comanda a caminhada, a outra, ficou para trás a dar dois dedos de conversa, a uma (...)
O rio Zêzere no seu ponto de chegada à barreira que modera o seu curso natural, desaperta as águas para podermos estreitar relações mais próximas. No Bairro Cimeiro, o horizonte estende-se a perder de vista, um vasto espaço para escrever histórias sobre as pessoas destes lugares. Imaginar como seriam os lugares antes da construção da parede que fez parar o rio. Em Martinchel o barbeiro, em pé, à porta do estabelecimento, está a escrutinar, o aparecimento de algum cliente para (...)
Na Aldeia do Mato as ruas apresentam ainda as cicatrizes originadas pelas pás das escavadoras, manobradas por operários, cirurgiões, dando formas a projectos na construção civil, que desventraram o subsolo da aldeia. Trocaram, melhoraram, e estenderam as entranhas, nas quais a água corre ao encontro das torneiras, quando é precisa nas casas dos aldeões. Como se fosse uma aparição, o padre, apesar das demasiadas paróquias a seu cargo, isto anda mau para todos, surgiu, segurando (...)
A paisagem é um livro aberto, a destruição de restos lenhosos oriundos das videiras, das oliveiras, de escritas anónimas nas folhas amarelecidas pelo tempo. O aniquilamento, transformado em pó, após a combustão, é lançado na terra. Uma combinação estimulante para as novas ideias, daqueles que nunca desistem  de pegar na caneta a semearem histórias. No ar, uma névoa de pensamentos espalha-se pelas aldeias da minha terra, leva a esperança, sossega as pessoas.
Não há armistício, a chuva cai ininterruptamente em Martinchel, as histórias nas estantes estão quietas e mudas. Como eu, não arranjam palavras para tanta água, e leitores que as leiam. A estrada transformou-se num longo ribeiro, a biblioteca ambulante, numa jangada de histórias. Neste pequeno curso de palavras não temo um naufrágio nas páginas do oceano, no qual irão desaguar as histórias desta armação feita de criatividade. Deslizo numa embarcação construída por (...)
À volta das palavras, um passeio rápido pelas ruelas da biblioteca ambulante. Passagens estreitas, percorridas a pente fino, onde as mãos têm dificuldade em penetrar nos intervalos que separam os prédios onde habitam as palavras. As letras mostram-se às janelas esperançadas que alguém compartilhe alguns mexericos, lhes pegue, as leve dali para fora. Penduradas no estendal, as frases dançam ao sabor do vento, apelam à leitura, pedem que compareçam nas pequenas ruas, incentivando (...)
Novamente na estrada, ir ao encontro dos bem aventurados nas páginas das histórias, a repor a leitura atrasada pela paragem imprevista da biblioteca ambulante. Não esperavam a visita repentina, vi isso nos olhos e nos sorrisos rasgados quando chegaram com as histórias. O vento não está para brincadeiras esta manhã, não houve melhor boleia para a biblioteca ambulante chegar à aldeia de Martinchel. Pouco antes de terminar a viagem nas asas do vento selvagem, telefonavam ao viajante (...)
A água na bica não se cansa de correr,  é a terra a expressar-se, a revelar-se aqueles que matam a sede na fonte, ao viajante das viagens e andanças. Ao bebermos dela ouvimos confidencias, as palavras alegres, os queixumes, a leviandade de alguns a cuida-la. Na Aldeia do Mato a leitora aproxima-se a mencionar que não vai levar histórias, só quer conversar comigo, está acordada há algum tempo e sou a primeira pessoa que encontrou. Aos seus olhos os terrenos e casas abandonados e (...)