A água na bica não se cansa de correr, é a terra a expressar-se, a revelar-se aqueles que matam a sede na fonte, ao viajante das viagens e andanças. Ao bebermos dela ouvimos confidencias, as palavras alegres, os queixumes, a leviandade de alguns a cuida-la. Na Aldeia do Mato a leitora aproxima-se a mencionar que não vai levar histórias, só quer conversar comigo, está acordada há algum tempo e sou a primeira pessoa que encontrou. Aos seus olhos os terrenos e casas abandonados e (...)
Abrir a porta da biblioteca ambulante hoje de manhã foi difícil, duas ou mais tentativas para desobstruir o acesso ao local das histórias foram eficazes a quebrar o gelo. Retraídas e muito juntas umas das outras nas estantes a protegerem-se do frio, só de olhar as histórias dava dó. O pequeno espaço gelado necessita rapidamente de calor, de gente a ocupa-lo, a afastar as histórias, a retira-las dos lugares que ocupam, abrir páginas, folhear, darem ânimo às letras para empurrem (...)
É com alegria que estaciono a biblioteca ambulante na Abrançalha de Baixo, encostada ao café da Associação de Moradores. Coloco os jornais e revistas nas mesas, sento-me, gosto de os ouvir, entre leituras, conversas sobre água pé, provas, o São Martinho, o som das folhas de um lado para o outro, apressadas para não perderem pitada da conversa. Mulheres e homens bem dispostos, gargalhadas à mistura, são trinta e poucos minutos de magia. A indulgência do sol ao início da (...)
O sol não consegue impelir para longe o ar frio na Aldeia do Mato, na fonte da aldeia a água continua a romper, também é ela que chama as pessoas à povoação, atestam garrafões como se não houvesse amanhã. É com desprazer que olho a felicidade da fonte ser tão útil, a minha só às vezes consegue matar a sede, não tem a afluência desta, a disparidade está no inesgotável fluxo de palavras. Nesta fonte as palavras não correm risco de seca, no passado fecharam-nas, não (...)
O estranho acontecimento do gafanhoto que gostava de ler livros do Stephen King, teria tudo para ser um título de uma história divertida. O personagem principal, quem se lembraria de um insecto saltador, leitor assíduo de histórias de um romancista norte-americano. Na história lerá saltando de linha em linha, de uma página para a outra, transporá demasiadas páginas de uma só vez, para voltar atrás noutro salto e recomeçar. Aqueles olhos esbugalhados, conseguirão envolver as (...)
A luz brilhante do sol em Martinchel não atrai leitores à biblioteca ambulante, junto das tílias as histórias protegem-se na sombra destas árvores. O odor que as suas flores libertam não se faz sentir ainda, não estão prontas para as infusões que abrandam a velocidade, muitas vezes furiosa das pessoas. A leitura não tem cheiro, apenas na imaginação de cada leitor, destapando as brochuras dos livros solta-se a fragrância das folhas causada pela impressão das letras. (...)
Está uma tarde morna com nuvens no céu, umas atrás das outras, empurradas pelo resto do vento da manhã, a dizerem que poderá chover. Não acredito, sem pararem não vão deitar cá para baixo alguma água que transportam. A biblioteca ambulante é uma nuvem cheia de histórias, impelida pela vontade do viajante das viagens e andanças a levar enredos, permanece nas aldeias despejando-as a quem as queira ler. Há quem goste de se molhar pelas letras, ao ponto de ficar encharcado de (...)
O calor está de volta, em Martinchel a biblioteca ambulante aproveita a escassa sombra que a tília consegue dar com as suas jovens folhas. Os leitores e as pessoas da aldeia são preguiçosos ou não gostam de ler, poucos jovens, demasiada idade nas pessoas, não são impedimentos para se aproximarem das histórias. A biblioteca ambulante volta sempre ao centro da aldeia, no pequeno largo com uma fonte, à beira da estrada que não se cansa dos veículos que não a deixam de atravessar (...)
A primavera beijou-nos de surpresa, as histórias, a biblioteca ambulante, o viajante das viagens e andanças estão cheios de sorte neste dia percorrido nas aldeias, também elas beijadas pelas águas do rio Zêzere. É pois um dia completo de beijos, juntando a estes os beijos dos leitores quando enfrentam as histórias na biblioteca ambulante. Beijos para aqui, beijos para ali, letras a beijarem-se, palavras a beijarem-se. Ler uma história, não é mais que um longo beijo de quem a (...)
O vento e mais poeira, marcam a manhã das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. No café o Nuno e uma cliente, ambos leitores da biblioteca ambulante ficaram com as cabeças encaixadas nas páginas dos jornais e das revistas. Uma leitura obrigatória sempre que venho à Aldeia do Mato. A informação periódica ainda é importante para alguns, um estímulo para outras leituras, uns preferem a informação desportiva, outros apontam à generalista e social. Gostam (...)