No interior da biblioteca ambulante o ar fresco entra e sai num abrir e fechar de olhos. À boleia do vento leve, chegam alguns fragmentos dos dias das festas, do último fim de semana em Martinchel. Os enfeites coloridos dançam presos nos fios atravessando as ruas da aldeia. A corrente fina, agarra-os com força, não os deixa voar livremente. Informa os forasteiros vindos pela corrente de substância escura, usada no revestimento das estradas, conduzindo os automóveis lustrosos (...)
O perfume, oriundo das flores das tílias, no acanhado largo à beira da estrada que nunca dorme, impregna a biblioteca ambulante. Transforma-a num gigantesco bule cheio de uma bebida carregada de princípios activos provenientes da infusão das palavras pendentes nas árvores. Um xarope para tratar dos que não têm conhecimentos literários, cheio de sabores. Os sadios gostam de preparar as palavras maceradas com folhas, flores e frutos de qualquer árvore. Não olham aos géneros, (...)
A ramagem das tílias está suficientemente frondosa para dar existência à sombra. É nesta que a biblioteca ambulante se esquiva dos raios solares, quando permanece na aldeia de Martinchel. As flores destas árvores ganham força e impressão visual, a progressão dos dias trará cor às flores. Do mesmo modo, conduziram uma leitora nova, destacando-se, assim, das outras pessoas da aldeia. Assumindo-se como uma flor da árvore, cujos frutos são as histórias, a semente que um dia irá (...)
Há uns dias atrás em conversa com um leitor a propósito dos tempos que testemunhamos actualmente, sobressaiu o acontecimento do 25 de Abril de 1974. Perguntei, o que fazia nesse dia, que mudou o paradigma político e social até então. Respondeu que estava a trabalhar, na fundição do Rossio ao Sul do Tejo. Soube da notícia, da queda do governo de Marcelo Caetano, nesse dia, até de madrugada não tirou os ouvidos da telefonia. Na fábrica o dia de trabalho decorreu normalmente. O (...)
Não consigo evitar de abrir a boca involuntariamente, o bocejo está sistematicamente a assaltar-me. Não estou aborrecido, talvez sejam efeitos dos comprimidos para atenuarem a constipação. Arrebatou-me no fim de semana, e está difícil de expulsar. Acontece o mesmo com o sol, depois de uma manhã cheia dele, foi tomado ao início da tarde por uma espessa camada de nuvens. De repente, a tarde transformou-se, vieram leitoras com ânimo, contagiaram o viajante das viagens e andanças (...)
A chuva premeia a ousadia dos automobilistas, fraccionando a intensidade da queda na estrada, nas viagens e andanças. Há momentos em que a quantidade da pluviosidade impõe um comportamento mais atento em determinados caminhos, ao encontro dos leitores. O mesmo cuidado têm alguns deles, ficam em casa, não se querem molhar, a leitura pode esperar para a próxima visita da biblioteca ambulante. Também os há audazes, sem medo da bátega, impossibilitando-lhes a manutenção das (...)
Cruzei-me com o peixeiro a meio da viagem para a Aldeia do Mato, a biblioteca ambulante e a carrinha do peixe são velhos conhecidos nas estradas das aldeias da minha terra. O peixeiro e o viajante das viagens e andanças incansáveis à procura de fregueses, o primeiro a buzinar uma melodia conhecida de todos, alertando as populações da sua aproximação, o segundo no veículo de cor amarela, com as flores e os monumentos expressados na carroçaria, manifestando a chegada das (...)
O dia rompeu nublado, maniatou as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, por um bocado estacionei o raciocínio. O destino da biblioteca ambulante hoje de manhã executei-o ontem, sem problemas rumei à manhã contrária a matutar o sucedido. As intermináveis viagens a levar histórias trazem discrepâncias na sucessão dos itinerários. Desatei a situação, sem questões os leitores lá estavam para ler o jornal, levar uma história, conversar exclusivamente. A (...)
Transitando numa das estradas que leva a biblioteca ambulante ao encontro dos leitores observo ao longe alguém caminhando na berma da estrada de braço erguido com a mão oscilando de um lado para o outro em saudação. Mais próximo reconheço um leitor, efusivamente não parava de acenar à biblioteca, abrandei retribuindo o gesto simpático. Uma chuva miudinha apoderou-se à chegada em Martinchel, a perseverança da água inunda a tarde, não impede as pessoas de realizarem trabalhos (...)
O frio não demove a chuva mesquinha a cair obstinadamente nesta manhã na Aldeia do Mato. Sem abrir as portas da biblioteca ambulante espero pacientemente por leitores aventureiros. Estou como o pescador lá em baixo no rio, aguardando sem perder a calma que o peixe caia na armadilha presa no anzol. Não têm conta os lançamentos da linha de pesca efectuados para a água até o peixe ser apanhado nas falsas afirmações do isco. No interior da biblioteca, sem linha, com a chuva a (...)