O sol na ficção literária pode ser uma nave não tripulada, imóvel, a disparar traços de luz contínuos. Fulminando o planeta, aquecendo a água dos oceanos, colocando a atmosfera em movimento. Um pintor criando a melancolia o renascimento, o desejo, a introspecção. Na Aldeia do Mato, povoação de braço dado, com o rio Zêzere, a biblioteca ambulante, arremessa palavras, acertando nas pessoas, quando, caminham próximo do auge, das histórias. A sombra, lentamente conquista o (...)
O céu desabou nas aldeias da minha terra, a queda de água em catadupa, agita as pessoas. Andam apressadas na rua, não querem ser molhadas, são constantes os disparos de água feitos pelos automóveis. Quando pisam os charcos a ocorrerem de um momento para o outro, a chuva não se cansa, ficam os transeuntes fatigados, ao passarem no local a correr. Entram esbaforidos nos lugares de trabalho, reclamando, encharcados. Andamos sempre a reclamar, quando não chove, quando chove sem (...)
As mãos prendem a manta de histórias, não querem deixar sair dos retalhos as memórias da longa vida que possuem. Histórias imortalizadas pela criação de cada uma, vidas cruzadas por fios, por tintas, materiais diversos. Mais importante, a oralidade, a leitura que aprenderam a gostar na biblioteca ambulante. Quatro caminhos, bruxas, homens transformados em lobo nas noites de lua cheia, narrativas que ouviram contar ao calor da lareira, no tempo em que a televisão era uma miragem. (...)
Uma árvore despida, um banco vazio, a biblioteca ambulante sem leitores, uma obra de malha feita com fios de algodão ornamentando o tronco. Partes de uma história, das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Pedaços presos nas memórias, da árvore invadida por folhas dando sombra a quem se senta no banco, aguardando o momento de ir escolher uma história. Sem deixar de observar o trabalho feito manualmente com a agulha. Uma corrente concluída pelos (...)
A alvura da tarde na aldeia de Martinchel, deve-se às histórias a cintilarem, perante a perspectiva de aparecerem leitores. São eles as estrelas nas viagens e andanças, as histórias salientam-se ao vê-los, impressionando-os com a magia das palavras, com os inimagináveis personagens ao longo das páginas. A biblioteca ambulante, não é mais que uma estrela cadente, sobre as aldeias da minha terra, anunciando a boa nova, o início de uma leitura, da vida independente, a lerem com (...)
As nuvens instalam-se a pouco e pouco na aldeia de Martinchel, a tarde perdeu o calor. Na rua as pessoas que se deixam ver passam apressadas, cobertas com roupas próprias para o momento sem paixão. Os leitores não vêm, fogem das histórias como se estas fossem ar frio. Não sabem que também são fogo, lendo-as podem elevar a sua espiritualidade a outros patamares. Na aldeia o único movimento são os veículos transitando na estrada que nunca dorme, a velocidade diminui ao (...)
Os primeiros alvores anunciavam o que seria a temperatura, que incomoda ao início desta tarde. Está calor, parece verão, não se despediu há muito de nós. Deixou para trás uma sensação produzida pela acção do sol, um simpático nível térmico, a roçar o exagero, na estação meteorológica em que estamos. Depois de uns dias mais frescos, com alguma chuva à mistura, voltar aguentar tudo outra vez, o calor, a melancolia, o desalento, do tempo a correr devagar debaixo de um (...)
Há acessibildade para todos na biblioteca ambulante, foi o que fizeram estes novos leitores na via que os conduziu à floresta de papel. Viram a fauna, cheiraram a flora, tocaram nas árvores, na textura do papel. Emocionaram-se com a vida a acontecer nas suas mãos, foram abraçados pela história lida pela Celeste. Momentos mágicos ocorreram na sala enorme, onde couberam todos para envolverem a esperança, a igualdade na leitura. Um abraço.
No interior da biblioteca ambulante o ar fresco entra e sai num abrir e fechar de olhos. À boleia do vento leve, chegam alguns fragmentos dos dias das festas, do último fim de semana em Martinchel. Os enfeites coloridos dançam presos nos fios atravessando as ruas da aldeia. A corrente fina, agarra-os com força, não os deixa voar livremente. Informa os forasteiros vindos pela corrente de substância escura, usada no revestimento das estradas, conduzindo os automóveis lustrosos (...)
O perfume, oriundo das flores das tílias, no acanhado largo à beira da estrada que nunca dorme, impregna a biblioteca ambulante. Transforma-a num gigantesco bule cheio de uma bebida carregada de princípios activos provenientes da infusão das palavras pendentes nas árvores. Um xarope para tratar dos que não têm conhecimentos literários, cheio de sabores. Os sadios gostam de preparar as palavras maceradas com folhas, flores e frutos de qualquer árvore. Não olham aos géneros, (...)