Os primeiros alvores anunciavam o que seria a temperatura, que incomoda ao início desta tarde. Está calor, parece verão, não se despediu há muito de nós. Deixou para trás uma sensação produzida pela acção do sol, um simpático nível térmico, a roçar o exagero, na estação meteorológica em que estamos. Depois de uns dias mais frescos, com alguma chuva à mistura, voltar aguentar tudo outra vez, o calor, a melancolia, o desalento, do tempo a correr devagar debaixo de um (...)
Há acessibildade para todos na biblioteca ambulante, foi o que fizeram estes novos leitores na via que os conduziu à floresta de papel. Viram a fauna, cheiraram a flora, tocaram nas árvores, na textura do papel. Emocionaram-se com a vida a acontecer nas suas mãos, foram abraçados pela história lida pela Celeste. Momentos mágicos ocorreram na sala enorme, onde couberam todos para envolverem a esperança, a igualdade na leitura. Um abraço.
No interior da biblioteca ambulante o ar fresco entra e sai num abrir e fechar de olhos. À boleia do vento leve, chegam alguns fragmentos dos dias das festas, do último fim de semana em Martinchel. Os enfeites coloridos dançam presos nos fios atravessando as ruas da aldeia. A corrente fina, agarra-os com força, não os deixa voar livremente. Informa os forasteiros vindos pela corrente de substância escura, usada no revestimento das estradas, conduzindo os automóveis lustrosos (...)
O perfume, oriundo das flores das tílias, no acanhado largo à beira da estrada que nunca dorme, impregna a biblioteca ambulante. Transforma-a num gigantesco bule cheio de uma bebida carregada de princípios activos provenientes da infusão das palavras pendentes nas árvores. Um xarope para tratar dos que não têm conhecimentos literários, cheio de sabores. Os sadios gostam de preparar as palavras maceradas com folhas, flores e frutos de qualquer árvore. Não olham aos géneros, (...)
Na rua, as mulheres atravessam-na, como se tivessem todo o tempo disponível do dia para percorrem a pé, o arruamento que termina no miradouro, situado sobre uma das extensões do rio Zêzere. Uma paisagem deslumbrante a perder de vista. Até lá, a correnteza de casas, algumas, simplesmente, com gente nas férias de verão, vêem as mulheres a palmilhar a distância. Uma delas apoiada num pau comprido, comanda a caminhada, a outra, ficou para trás a dar dois dedos de conversa, a uma (...)
A ramagem das tílias está suficientemente frondosa para dar existência à sombra. É nesta que a biblioteca ambulante se esquiva dos raios solares, quando permanece na aldeia de Martinchel. As flores destas árvores ganham força e impressão visual, a progressão dos dias trará cor às flores. Do mesmo modo, conduziram uma leitora nova, destacando-se, assim, das outras pessoas da aldeia. Assumindo-se como uma flor da árvore, cujos frutos são as histórias, a semente que um dia irá (...)
O rio Zêzere no seu ponto de chegada à barreira que modera o seu curso natural, desaperta as águas para podermos estreitar relações mais próximas. No Bairro Cimeiro, o horizonte estende-se a perder de vista, um vasto espaço para escrever histórias sobre as pessoas destes lugares. Imaginar como seriam os lugares antes da construção da parede que fez parar o rio. Em Martinchel o barbeiro, em pé, à porta do estabelecimento, está a escrutinar, o aparecimento de algum cliente para (...)
Há uns dias atrás em conversa com um leitor a propósito dos tempos que testemunhamos actualmente, sobressaiu o acontecimento do 25 de Abril de 1974. Perguntei, o que fazia nesse dia, que mudou o paradigma político e social até então. Respondeu que estava a trabalhar, na fundição do Rossio ao Sul do Tejo. Soube da notícia, da queda do governo de Marcelo Caetano, nesse dia, até de madrugada não tirou os ouvidos da telefonia. Na fábrica o dia de trabalho decorreu normalmente. O (...)
Na Aldeia do Mato as ruas apresentam ainda as cicatrizes originadas pelas pás das escavadoras, manobradas por operários, cirurgiões, dando formas a projectos na construção civil, que desventraram o subsolo da aldeia. Trocaram, melhoraram, e estenderam as entranhas, nas quais a água corre ao encontro das torneiras, quando é precisa nas casas dos aldeões. Como se fosse uma aparição, o padre, apesar das demasiadas paróquias a seu cargo, isto anda mau para todos, surgiu, segurando (...)
Não consigo evitar de abrir a boca involuntariamente, o bocejo está sistematicamente a assaltar-me. Não estou aborrecido, talvez sejam efeitos dos comprimidos para atenuarem a constipação. Arrebatou-me no fim de semana, e está difícil de expulsar. Acontece o mesmo com o sol, depois de uma manhã cheia dele, foi tomado ao início da tarde por uma espessa camada de nuvens. De repente, a tarde transformou-se, vieram leitoras com ânimo, contagiaram o viajante das viagens e andanças (...)