A primavera continua frouxa, boa para as pessoas alérgicas ao pólen. Assim como eu, enquanto esta sobe pelos próprios meios, apesar das investidas de alguns elementos naturais mais perturbadores, até ao verão. A sensibilidade às substâncias microscópicas vagueando aleatoriamente no ar, não me deixam descansado. Há uma árvore alta, perto do local onde a biblioteca ambulante permanece, no meio da folhagem, saltitando de ramo em ramo, os pequenos pássaros levam uma existência (...)
O espaço no centro da aldeia está a ser cuidadosamente limpo, as ervas daninhas são arrancadas por alfaias mecanizadas, o restante acumulado na rua é afastado violentamente pelo sopro de outra máquina. Substituta de Éolo, o Deus do vento, esta é manobrada por um homem, é possível que seja Zeus, pai dos deuses, só tem de fazer pressão com um dedo num botão, depois os mecanismos recebem a energia e o soprador de folhas ganha vida, os quatro grandes ventos fazem o resto, levando (...)
O calor abraçou a tarde depois da ventania acalmar, uma excentricidade que não faz falta nenhuma nas viagens e andanças com letras. Felizmente os leitores hoje abriram as portas das suas casas, e definiram vontade de saírem, virem à biblioteca ambulante, devolverem as histórias, levarem outras. Os cabelos no ar, foram só episódios rocambolescos, peripécias para os prenderem. A segurarem as histórias, não foi fácil, quem não passou pela experiência foram aqueles com menos (...)
O largo tem pessoas, sentados sob a esplanada que acompanha o desvio que a calçada tem para a entrada da rua ser ampla. Defronte, estão mais mesas e cadeiras ocupadas por mulheres, falam sem parar, raspando pequenas cartolinas da sorte. O homem que assa os frangos, vende hortaliças, flores e sei lá mais o quê, arruma o negócio na carrinha sem tirar o cigarro da boca. Acompanhado por outro que tem a totalidade do rosto coberto por uma espessa manta de pêlos, sobressaindo o (...)
As fotografias biográficas do Antonio Botto oscilam, penduradas nas guitas que atravessam o interior da biblioteca ambulante, aparentam terem vida própria. Não mencionam, a sua apresentação aos aldeões está por um fio, tal e qual como elas estão aos olhos de quem as queira descobrir. Autor desconhecido na maioria das aldeias da minha terra, foi nas viagens e andanças que se deu a conhecer, onde nasceu, o percurso literário, o fim trágico da sua existência no Rio de Janeiro. (...)
Lugar onde as pessoas da aldeia se abastecem, e frequentam para beber café, um copo, ter conhecimento das novidades. Ponto de encontro dos velhos e dos novos, o Mercadinho da Fonte em Sentieiras, foi hoje, entre embalagens de massas, arroz, leite, enchidos, carne, peixe, e sei lá mais o quê, palco para saber mais sobre António Botto. Homem diversificado na literatura, nasceu na aldeia da Concavada, no concelho de Abrantes, a 17 de Agosto de 1897. Estamos pois a celebrar o (...)
À roda da Bia a cantar a mulher perfeita, à roda da Bia a lembrar o poeta. À roda da Bia a falar de Fátima. À roda da Bia, estão Motivos de beleza em rostos ocupados pela rudeza. À roda da Bia, Ainda não se escreveu a história toda. À roda da Bia revivi Cantigas de saudade, narradas por velhos cheios de felicidade. À roda da Bia, sem Ciúme celebramos O livro do povo nas palavras do António Botto.
A revista Sábado desta semana, destaca mais uma reedicção da poesia de António Botto, poeta maldito "real e imaginário". Nascido no concelho de Abrantes na aldeia da Concavada em 17 de Agosto de 1897, veio a falecer, vítima de atropelamento no Rio de Janeiro a 16 de Março de 1959. Seu pai trabalhava como marítimo nas fragatas do rio Tejo, ainda pequeno foi morar para Lisboa, jovem empregou-se numa livraria, tendo a partir daí conquistado a simpatia de alguns escritores já (...)