O dealbar do primeiro dia da semana nas viagens e andanças trouxe temperaturas amenas à charneca, e às aldeias da minha terra. Voltei a ver as pessoas nas ruas destas pequenas povoações, a caminharem pelo campo, exercitando o corpo cada vez mais preguiçoso à medida da passagem dos anos. Continuam a insistirem em dar pancadas fortes na tranquilidade de uma oliveira, símbolo de sabedoria, de paz, de glória e abundância na Antiguidade. Já estou a ver as folhas serem sacudidas na (...)
A chuva voltou a desabar, os tambores do céu ouvem-se a ribombar ao longe, a festa celestial desfaz-se em lágrimas. Alegria no céu e na terra, nas planícies e na charneca, pelas aldeias da minha terra, as ervas a despontarem, os ribeiros a engordarem, são as letras a preencherem uma folha em branco, há muito desabituada da tinta a escorrer pela ponta do aparo. Ambas alimentarão os animais, os leitores, satisfação nas viagens e andanças. O sol volta a brilhar, no alpendre, no (...)
O frescor matinal entusiasmou os habitantes da aldeia de S. Facundo, a leitora habitual, num abrir e fechar de olhos renovou as histórias, o viajante das viagens e andanças escreve com agilidade a sua crónica. Querendo antecipar-se ao calor do meio-dia, os rostos sorridentes passam perto da biblioteca ambulante, mexendo as bocas, saudando o bibliotecário. Já se vindima na aldeia da Ribeira do Fernando, sei isto pela mulher de um leitor, pelo telefone disse-me que o Manuel não pode (...)
O vento leva tudo à frente quando atinge o crédito do sol, aquecendo demasiadamente as aldeias da minha terra por estes dias de uma forma mais acelerada. O ar quente vagueando há demasiado na charneca está subindo, possibilitando a intromissão do seu gémeo dizigótico, o ar frio. Com este fenómeno meteorológico os cabelos do Manuel não paravam de um lado para o outro no topo da cabeça, uma das mãos teimava em estabilizar os parcos pelos que lhe restam sem sucesso. A outra (...)
Há música na Bia, há festa na aldeia, as palavras foram as bailarinas no Centro Social de S. Facundo. O acordeão soltou as melodias, e estas encheram o salão, bailaram com sorrisos de encherem a boca. Não houve leilão, não se venderam e arremataram palavras, como faziam noutros tempos os rapazes. "Compravam" o seu par, as raparigas bonitas com quem queriam dançar. Quem oferecia o maior lance, dançava com a rapariga desejada. Ora quantos escudos seriam necessários para manter o (...)
A cortina vulgar de nuvens suspensas, enfiadas numa vara horizontal imaginária, não deixa o céu azul espreitar, mas permite ao sol fincar os raios na biblioteca ambulante e na aldeia de S. Facundo. Na rua principal, um prédio está a restabelecer-se nas mãos de operários a colocarem rejuvenescimento na fachada exterior do mesmo. Este, irá acolher uma família jovem que trocou a cidade pela aldeia, o vento vai trazendo aqui e ali, noutras aldeias, sussurros de aquisições de (...)
A incerteza do tráfego rodoviário hoje de manhã atrasou a chegada da biblioteca ambulante à primeira aldeia do dia. A primavera caminha para o seu ponto mais alto, um mar de pequenas flores silvestres preenche a depressão alargada e alongada, onde as histórias se destacam a serem levadas na biblioteca ambulante aos leitores das aldeias. Também o viajante das viagens e andanças sente o avanço, as manifestações alérgicas ao pólen começam agora as hostilidades, num território (...)
Receio a continuidade da biblioteca ambulante no próximo verão nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Fico assustado pela morte súbita das histórias na casa dos leitores, isto porque segundo li, a Carta de Perigosidade de Incêndio Rural prevê o impedimento das pessoas de saírem de casa em dias de alto risco de incêndio nas zonas rurais. Como eu deverão estar a padeira, o peixeiro, o merceeiro e todos os outros cujos ofícios ambulantes dependem das (...)
Março marçagão manhãs de inverno tardes de verão, têm sido assim os últimos dias nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O azul primaveril conquistou a aldeia, os pequenos prédios a plagiarem a cor do céu estão vazios, eventualmente, nos dias de descanso, nas romarias da aldeia, abram as portas, tragam os filhos ausentes. Estes trazem outros, gente nova, diferente, articulando línguas novas, a mostrarem que a aldeia não lhes diz nada. Desenraizados (...)
Se bem me lembro, em miúdo andei muita vez na charneca com alguém que me levava com ele quando ia à caça. Nem sempre era necessário calcorrear os trilhos e o campo pedregoso, havia dias que não saíamos do interior do carro, estacionado num local ermo, o cano da arma a descansar no intervalo da porta ocupado pelo vidro, chapéu a tapar as sobrancelhas, como se estivesse a passar pelas brasas. Eu não parava, a vista sempre de um lado para o outro, adivinhando algum coelho ou lebre (...)