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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

A charneca canta e chora de alegria, as plantas selvagens molham as raízes nas pequenas correntes de água, que continuam à superfície do solo. A biblioteca ambulante, acelera nas estradas estreitas, escoltadas por sobreiros e carvalhos, as viagens e andanças prosseguem outra semana pelas aldeias da minha terra. No largo do Café Areias, com vista privilegiada, para a charneca abastada, para uma leitora da biblioteca ambulante, sentada, numa cadeira, na varanda da sua casa, protegida (...)
O nevoeiro é um intruso silencioso a passar nos lugares estreitos da charneca, uma serpente que alastra pelo vale adiante. A biblioteca ambulante sai como a linha a deixar o buraco da agulha  deste tempo vagabundo, atingindo a aldeia no topo do terreno onde crescem plantas rasteiras. Ao sol na rua principal os velhos sentados nas soleiras das portas, aquecem os ossos carcomidos pelo peso da idade,  o corpo encurvado, consumidos, parecem cartão dobrado, preparado para ser metido nos (...)
23 Nov, 2021

Antes lessem...

Onde a terra começa a espreguiçar-se e a estrada foge, tractores puxando alfaias mecanizadas revoltam as terras no Salvadorinho. A terra tem que ser mexida, assanhada para receber sementes novas, não tem sequer tempo para descansar na agricultura dos dias de hoje. Assim estão as pessoas, não lhes sobra intervalos para lerem, muitas vezes a resposta que dão é que têm muitos livros em casa, que o tempo é curto para estarem com um livro na mão. Já basta aqueles que infelizmente (...)
  - Deixa cantar a calhandra! Foram estas as palavras proferidas pelo homem velho, que estava junto a mim, protegendo-nos do sol tórrido debaixo de um pequeno alpendre na aldeia da Barrada, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Os filhos abalaram para outras terras, está só, com a velha, como ele diz. Da sua casa, lá em cima, a última, quase ao pé do cemitério, desloca-se vagarosamente até aqui. Senta-se um bocado, a ver passar o tempo, pois gente não (...)
  Na estrada não ouço música, mas vejo as flores a dançarem, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. No sentido da aldeia da Barrada a biblioteca ambulante transita na planície, os campos são de perder a vista, aqui e acolá alguns rebanhos apascetam, longe do búrburio citadino o viajante das viagens e andanças enquanto conduz as histórias relembra um episódio passado na tarde de ontem na aldeia de Arreciadas com um leitor. Ao entrar questionava se (...)