A alvura da tarde na aldeia de Martinchel, deve-se às histórias a cintilarem, perante a perspectiva de aparecerem leitores. São eles as estrelas nas viagens e andanças, as histórias salientam-se ao vê-los, impressionando-os com a magia das palavras, com os inimagináveis personagens ao longo das páginas. A biblioteca ambulante, não é mais que uma estrela cadente, sobre as aldeias da minha terra, anunciando a boa nova, o início de uma leitura, da vida independente, a lerem com (...)
A aldeia mostra fragilidades com o envelhecimento das pessoas, parece agastada. No Brunheirinho excetuando duas mulheres à entrada da mesma, olhando surpreendidas a passagem da biblioteca ambulante. Até ao momento, o merceeiro a buzinar a sua carrinha, não se fez ouvir. Talvez se tenha antecipado ou andará ainda por outros lugares próximos a negociar os produtos alimentares. Sem ele seria difícil a muitas destas pessoas deslocarem-se para adquirirem tudo o que serve para alimentar. (...)
Os prados verdes são as folhas onde os homens nas aldeias escrevem as páginas das suas vidas. Obras literárias que alimentam a imaginação daqueles que nunca saíram das grandes cidades. Lêem, saboreando com curiosidade cada palavra nas páginas, escritas pelos homens das aldeias da minha terra, nas folhas. Sentem a liberdade que não têm na cidade, sempre que as apreciam. Soltam-se os odores, fumegam no espaço das refeições, alegres, tristes, solitários, oriundos da leitura, da (...)
O orvalho não deixa espaço para o tapete verde mostrar toda a sua beleza na charneca. A terra finalmente transpira de cansaço por ter ultrapassado o calor dos meses anteriores. Terminaram os dias de suplício, regressaram os textos, as viagens e andanças pelas aldeias da minha terra, frias, rudes, como o coração dos homens, ausentes no progresso destas. As chaminés sempre a vomitarem fumo, os velhos aquecendo-se ao sol, no início dos dias, nos finais dos mesmos. Dias curtos, para (...)
Na aldeia da Amoreira as nuvens tiraram o sorriso que a manhã mostrou desde o seu início. A perda da expressão facial desta, não dificulta os seus habitantes de exporem à vista do bibliotecário da biblioteca ambulante, pessoalmente, o seu sorriso, a saudação, com um gesto da mão, ou erguendo um braço, ao passarem próximos das histórias. Não frequentam o espaço onde a criatividade está presente, de braços abertos, a quem queira conhece-la, ficar íntimo, ou mesmo (...)
O tempo anda apressado, talvez seja o presente a perder robustez, apesar da continua passagem dos dias, nas viagens e andanças. A aldeia do Tubaral é uma daquelas que deixou de ter tempo para os leitores se aproximarem da biblioteca ambulante. Perde população, não há esforço para leituras, será causalidade, sempre que as histórias a visitam, a aldeia desmaia. O ânimo, as mulheres que aguardavam a carrinha da padeira, desapareceu para sempre. O largo perdeu alegria, as vozes (...)
As cores outonais nas folhas das árvores destacam-se na manhã cinzenta, nas viagens e andanças. Assim também sobressai a biblioteca ambulante na cor da sua carroçaria, ao percorrer as aldeias da minha terra. Notabiliza-se pela carga que transporta, não é uma folha igual às outras, mas consegue voar como elas de uma ponta à outra do território à beira rio. É uma folha capaz de captar pessoas para a leitura, faz trocas de histórias com leitores. Um processo cheio de (...)
A neblina dissipou-se, abrindo o caminho aos raios solares para entrarem no território das aldeias da minha terra, através das portas da biblioteca ambulante às histórias. Esclarecendo os transeuntes, os leitores sobre o espaço que têm ao dispor, da possibilidade de encontrarem caminhos novos. Explorarem léguas de páginas, conhecendo os alicerces da imaginação, montes e vales de palavras proferidas por personagens desejosos de serem encontrados pelos leitores. Perceberem a (...)
As nuvens instalam-se a pouco e pouco na aldeia de Martinchel, a tarde perdeu o calor. Na rua as pessoas que se deixam ver passam apressadas, cobertas com roupas próprias para o momento sem paixão. Os leitores não vêm, fogem das histórias como se estas fossem ar frio. Não sabem que também são fogo, lendo-as podem elevar a sua espiritualidade a outros patamares. Na aldeia o único movimento são os veículos transitando na estrada que nunca dorme, a velocidade diminui ao (...)
O que é o comer? Foi, é com menos frequência, a maneira de viver das gentes da aldeia do Pego. Através da comida conquistaram as pessoas do território das aldeias da minha terra, dos forasteiros que nunca deixaram de passar a língua regaladamente nos pratos, sem complicações de confeccionar. É um livro, para além de ser um receituário de sabores, é a história da alimentação, dos ofícios, das tradições, das pessoas da aldeia do Pego. Antes que a oralidade se esgote de (...)