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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

29.10.25

SOMOS BIBLIOTECA ...


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O odor a terra molhada a penetrar nas minhas narinas é um antibiótico combatendo as ausências dos leitores. A colheita da azeitona, a chuva forte, nestes últimos dias têm contribuído para o escasso movimento no interior da biblioteca ambulante. O vale, a charneca que o acolhe, estão em sintonia com o outono, O cheiro da terra, o céu pintado de nuvens, a cor da paisagem, impedem  os dias de serem menos bons, nas viagens e andanças. Tudo faz parte das situações do viajante das (...)
03.10.25

Os leitores da aldeia ...


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  Hoje o lugar habitual do estacionamento da biblioteca ambulante em Alferrarede Velha está ocupado pela concorrência. Desta vez é uma vendedora de roupas, com acessórios para as mesmas, conjuntos de atoalhados e de cama. As freguesas mexem e remexem no que está exposto nas bancadas sustentadas por cavaletes. Aqui não há provas, os olhares experientes das mulheres acertam nos tamanhos, enquanto o negócio decorre, disputando o custo da roupa, procurando comprarem por menos. (...)
16.09.25

Venha a aldeia toda ...


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A manhã está como descascamos uma fruta, a qual julgamos doce. Quando a trincamos, a primeira dentada vem logo com sabor desigual aquele que esperávamos. Foi assim hoje, o primeiro olhar aparentou uma manhã amena, depois, nas viagens e andanças, o frio causando arrepios. O sol, presente não tem força suficiente, mais logo estará diferente, quente e brilhante. O café está fechado, há poucas pessoas a passarem no lugar onde a biblioteca ambulante permanece. Se correr bem, virão (...)
28.08.25

Cimentar pessoas, ...


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O vento continua a empurrar as nuvens, em grupos, alternando com o céu azul, chegam como os animais de grande porte, às aldeias da minha terra. Estepes isoladas nas planícies do interior do país. Deixando-se conduzir passivamente ao ritmo do sopro do vento. O verão está a perder o vigor, posso estar enganado, mas haverá verão que irá dar que falar ainda. Tem conquistado a pouco e pouco o tempo ao outono, colocando aqui e ali, no inverno, e na primavera, interesses em parcelas (...)
04.08.25

Não há pessoas ...


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As pálpebras estão pesadas, não aguentam o peso da temperatura exterior na sombra do plátano grande. Não se vê vivalma na aldeia do Vale Zebrinho, na biblioteca ambulante, as histórias não vão ter sorte. Hoje não sai nenhuma, desviadas pela corrente de leitores, do leito onde as palavras são seixos depositados nos canais artificiais, mergulhados nas páginas. Presas nas represas, aguardando que a sede se manifeste, para as comportas se abrirem e deixarem passar a cascata de (...)
03.06.25

Nunca adormecem, dormentes...


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Empurrada pelo vento abundante a ramagem do plátano grande, na aldeia do Vale Zebrinho, bate levemente na biblioteca ambulante. Embalando-a como as mães fazem com os filhos de tenra idade, as histórias deixam-se ir nos braços da árvore. A sonharem, nas viagens e andanças, nas famílias que as usam, no período que permanecem nas suas casas. No leitor que vivia sozinho, que as adaptou para ser feliz. Na leitora, no início inexperiente, depois, mais crescida no conhecimento (...)
14.05.25

No campo, cheio de flores amarelas


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Os campos amarelos, são minas de ouro à superfície, mais, do que propriamente flores dançando ao vento. De uma riqueza natural, atraindo o olhar de quem passa, as flores amarelas podem ornamentar, em forma de arco semicircular a cabeça das mulheres. As aldeias da minha terra, as rainhas, das viagens e andanças. As pessoas, os leitores, todos os que queiram ver, cheirar e sentir, as pétalas. As folhas florais que compõem, a história para levar para casa, não para colocar numa (...)
23.04.25

Montado na biblioteca ambulante, escudado ...


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    No tempo em que Filipe II de Espanha ou Filipe I de Portugal, no período em que a corte se instalava em Tomar, talvez, Cervantes tivesse percorrido o território das aldeias da minha terra, após ter navegado na principal estrada fluvial da Península Ibérica, o rio Tejo. Ou pode não ter acontecido assim, pois na imaginação do autor, na loucura do cavaleiro fidalgo, nas aventuras com o seu fiel companheiro Sancho Pança, não menciona na sua obra, não  percorreram as terras (...)
03.04.25

Vai ser um pacto entre nós ...


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A roupa, de feitios diversos, camisolas, calças, saias, vestidos; com ligação muito forte às pessoas, desiguais no tamanho, estão espalhadas pela superfície da mesa. Continuam expostas, penduradas em cabides na porta traseira aberta da carrinha, no interior colocadas em caixas de cartão, bem organizadas. Caso se esgotem os exemplares que estão à vista, na carrinha há um armazém, onde a vendedora recorre caso seja necessário. Sorrateiro, aproximei-me da mulher, não parava de (...)
17.03.25

Deram-me o nome do rei da selva ...


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A erva molhada causa-me um transtorno enorme, a pastora pôs-me a mexer do lugar onde dormia, mergulhado na palha. Orientei as ovelhas, um trabalho cada vez mais exigente para a minha idade, são teimosas, corro de um lado para o outro, encaminhando-as para o rumo certo. Na direcção do prado a estrear de erva macia, um sítio bom para continuar a dormir, não fosse a chuva molhar o meu pêlo até aos ossos. Deram-me o nome do rei da selva, aqui não há floresta densa, há uma charneca, (...)