As aldeias da minha terra acordaram com o ribombar dos trovões, o vento uivando e o desabamento do céu inundando os caminhos nas aldeias. A terra transformada num prato ensopado pelo sentimento de alegria. A água trouxe tranquilidade aos campos, agitação nas ribeiras, e revolta nos lugares de escoamento, expelindo-a para fora do trajecto habitual. Sem leitores, a biblioteca ambulante no período da manhã foi observadora do caos nas estradas, e ruas. Algumas com água bastante para (...)
As nuvens aproximam-se, do lado de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos, seja o que Deus quiser, dizem os da aldeia. É o regresso da chuva às aldeias da minha terra, água para matar a sede nos campos, ressequidos por demasiados dias de muito calor. É o outono a estabelecer-se, o frio, as geadas, que tanta falta fazem para eliminar alguma bicharada que atrapalha o crescimento das culturas do inverno. Não há inteligência artificial (por enquanto?) que altere as intenções da (...)
O outono chegou com manhãs azedas e tardes amadurecidas. Os dias já não são novos, caminham prudentemente para o declínio. O júbilo manifestado até aqui esmorece com o avanço do movimento de translação em torno do sol. Processo natural, irreversível ao homem, avançando nas viagens e andanças pelas aldeias da minha terra. A deslocação da biblioteca ambulante em direcção às pessoas, amadurece os relacionamentos com a leitura das histórias. Travando amizades com (...)
As nuvens actuam como se fossem uma cortina protegendo a biblioteca ambulante da luz opaca do sol. No parque infantil, a criança de chupeta na boca, brinca com a sua mãe, está feliz no balouço, o vento ajuda um pouco, não é forte, traz uma aragem agradável. As mãos da mãe causam o vaivém, fazem sorrir a criança. O vento, também trouxe histórias, lugares, onde viu a morte perto, onde foi feliz profissionalmente, na guerra no ultramar, norte de Angola, Luanda; pensões Montes (...)
A manhã desenrolou-se debaixo da sombra das árvores, no recinto ameno da instituição "Meninos da floresta", lendo histórias para os que sentem atracção pela leitura em voz alta. Houve quem lesse num recanto, abraçando de um modo íntimo a história. Partilhasse segredos com os personagens, participasse nas mesmas aventuras. Outros deambulavam no espaço, a brincar, a palavra mais importante da escola, diferente de todas as outras, nas viagens e andanças. A pequena horta (...)
Hoje, o Rodrigo veio comigo ao passado, a «Manta de Histórias» está a ter o seu início na aldeia de Casais de Revelhos. Veio memorizar digitalmente histórias, acontecimentos marcantes na vida das mulheres da aldeia. São regressos embaraçados, ou mesmo descontrolados. Viajar no tempo, aterrar no período em que alguma coisa se fez, a acontecer outra vez, agora, na memória. Puxada da gaveta, do novelo. A linha desliza unindo as experiências das mulheres, as tristezas, alegrias, (...)
O coaxar das rãs sobrepõe-se às melodias dos pássaros no lugar urbano de Vale Rãs, com a toponímia a merecer o nome. Um curso de água atravessa o local onde a biblioteca ambulante resiste às ausências, aos que olham com curiosidade, sem atrevimento para conhecerem as histórias. As pequenas rãs estão sempre em todo o tempo, com agilidade para saltarem sempre que me aproximo. Mergulhos perfeitos nas águas pouco profundas de um curso de água apertado pelo desenvolvimento e (...)
O dia acordou radiante, para trás ficaram os dias grisalhos, não quero dizer com isto que tenham sido maus, o meu cabelo também se encontra na mesma tonalidade, nem por isso sou uma pessoa de mau humor. O sol bate no rio Tejo, endiabrado, galgou as margens, sem espaço para se manter no leito, invadiu a cercadura da folha de partículas suspensas na água. São histórias, informações, da mãe natureza, escritas do passado dando a conhecer a história do rio, que o homem por (...)
Na estrada, nas viagens e andanças, vi a cegonha a voar baixinho, segurando no bico pequenos ramos para a construção do seu ninho. Sem asas como a cegonha, a biblioteca ambulante desloca-se, impelida pela vontade dos leitores a fabricar e reunir memórias nas comunidades. Orientada na direcção das aldeias da minha terra. Marcando aqui e ali as pessoas mais afastadas, incluindo-as no universo da leitura, apontando o sentido que devem tomar.
O céu esta manhã parece um vidro fosco, deixando passar a luz, sem permitir distinguir a cor azul. A sombra da árvore na parede faz-me lembrar o cabelo desguedelhado de um leitor a chegar apressado, esquecendo, por pouco, da presença da biblioteca ambulante no seu bairro. Não está frio apesar das nuvens insistirem em tapar o sol nas viagens e andanças. Poucas são as pessoas a passearem em volta do espaço verde, a dirigirem-se a qualquer lado. A área é sobrelotada por grandes (...)