O céu esta manhã parece um vidro fosco, deixando passar a luz, sem permitir distinguir a cor azul. A sombra da árvore na parede faz-me lembrar o cabelo desguedelhado de um leitor a chegar apressado, esquecendo, por pouco, da presença da biblioteca ambulante no seu bairro. Não está frio apesar das nuvens insistirem em tapar o sol nas viagens e andanças. Poucas são as pessoas a passearem em volta do espaço verde, a dirigirem-se a qualquer lado. A área é sobrelotada por grandes (...)
Entrei no café, a televisão falava com eles, rostos direccionados para o enorme écran colado na parede. Um filme do far-west tirava-os da realidade, com personagens interpretados por actores que os influenciaram na juventude. Pousei os jornais nas mesas ocupadas, uns continuaram como estavam, outros atiraram-se aos jornais. Enquanto saboreava o café, observava como olhavam de frente para as letras do jornal que liam. Havia quem enfiasse a cabeça no meio das páginas, ou se (...)
O início da semana nas viagens e andanças é nos arredores da cidade, o local onde a biblioteca ambulante se encontra estacionada, permite avistar as muralhas do seu castelo. Actualmente são mais os emigrantes que passam no bairro, do que os próprios naturais. Olham cheios de curiosidade as histórias, não se atrevem a entrar, conhecerem de perto os assuntos, nos quais poderiam abraçar de outra maneira a sua integração na nova realidade em que estão. Tapam o corpo com roupas (...)
O jorro de água sai com força elevando-se muito alto para atingir o mais longe possível a área de relva a regar. O vento brando, com a água aspergida tornam a tarde mais fresca, nas viagens e andanças. O cheiro da relva molhada é motivador aos sentidos do bibliotecário ambulante. Elimina possíveis ataques de torpor, na ausência de pessoas, de leitores na aldeia, excepcionalmente um automóvel, ou outro atrevem-se a sair, ou a entrar pelo casario adentro, na única estrada a (...)
O dia está com dificuldade e tomar decisões, a incerteza do tempo, as nuvens a passarem no céu, depois chega o sol, sempre cheio de energia. Encaminhará os leitores à biblioteca ambulante, será o dia portador de histórias diferentes. O bairro e tudo o que é circundante transmitem serenidade, à primeira vista não acontece nada. Os sons traem essa impressão, o choro de uma criança, uma mulher a fazer-se ouvir, automóveis que estacionam, outros que saem. As contínuas passagens (...)
A sensação de bem-estar na celebração dos cinquenta anos do 25 de Abril, parece ter sido ultrapassada. O início da semana não sofre qualquer alteração, a preguiça, os dias sem viagens e andanças, é sempre um regresso fatigante. Os leitores talvez padeçam do mesmo incómodo, até ao momento nenhum apareceu na biblioteca ambulante. No bairro onde os prédios altos, e fraccionados, as casas independentes, evidenciam um conjunto de pessoas interessantes. Não anunciam novidades, (...)
O tempo é democrático, apesar dos defeitos que possui. Nem sempre se apresenta no período exacto do seu manifesto, apesar das previsões mostrarem muitas vezes o contrário. Sermos surpreendidos pela chuva abundante logo de manhã, quando acordamos, prontos para um dia primaveril e soalheiro. Ouvirmos o ribombar inesperado da trovoada ao longe, sentindo a mesma aproximando-se zangada. Usarmos vestuário inapropriado num dia desconcertante para a temperatura prevista, que não (...)
Subitamente, dou comigo a olhar as histórias mais recentes na biblioteca ambulante, destacadas, numa posição vertical, debruçadas nas estantes para o pátio das brincadeiras. Como elas, fixo o meu olhar para o mesmo sítio, a sujidade acumulada, vestígios de terra, minúsculos grãos de areias, espalhados no recinto, despertam-me, tenho que deixar a biblioteca ambulante no final do dia, nas instalações onde se limpam e lavam os veículos. O colega responsável pelo serviço irá (...)
Foram raios de sol, os que entraram pela manhã a revirarem do avesso a neblina matinal. Espevitando o estado da prostração, estampada no rosto do viajante das viagens e andanças. Enlearam histórias, como quem liga as linhas nos bordados, retiraram outras para lerem, muita actividade junta para o início da manhã na biblioteca ambulante. Soube em segredo, do descontentamento do proprietário de um café, referente ao estacionamento da biblioteca ambulante, sempre próximo de outro (...)
O vento puxa-me, não quero ir, o arco-íris é a ponte para chegar à outra margem do rio, nas viagens e andanças. O sol rasgou as nuvens ao meio, de um lado há alegria, no outro a tristeza. Em ambos há histórias contadas, há histórias por contar, a biblioteca ambulante está cheia delas. O vento não as levou, não sabe ler, é um conquistador, leva tudo à sua frente, de um momento, para o outro, conquista o mundo. A biblioteca ambulante não é o vento, voa nas asas deste, para (...)