A suave neblina paira no ar nas aldeias da minha terra, deu serenidade à manhã, as pessoas no Tramagal aparentam estarem felizes. Falam pelos cotovelos quando abordadas para se sentarem um pouco junto da biblioteca ambulante e ouvir a história lida pelas colegas temporárias, na actividade englobada na parceria com CLDS 4 G ( Contractos Locais de Desenvolvimento Social ). O mais difícil, apesar da sedução é permanecerem, têm sempre qualquer coisa para realizar, o almoço, uma (...)
A cantoria dos pássaros está diferente, oiço-os nas árvores que estão próximas da escola onde a pequenada com os seus gritos estridentes jogam à bola no recreio, competem com as aves. A primavera não está longe, até lá, ainda há um caminho difícil para destronar o inverno. As pequenas aves indiferentes seguem o ciclo natural do acasalamento e posterior reprodução, são as cantorias energéticas anunciando o renascimento, e a esperança. A biblioteca ambulante reapareceu (...)
A estrada sinuosa parece não ter fim, de mãos dadas com o rio, a biblioteca ambulante e as histórias vão ao encontro dos leitores. Desatentos ao caminho, encantados por o rio estar a correr cheio de energia, com as águas escuras e dinâmicas, os dois observam em ambas as margens os choupos molhando as raízes na corrente. As cores amadurecidas das folhas cativam os olhos de quem passa na estrada, brilhando quando o sol consegue cravar os raios fugitivos da tristeza do céu. A (...)
O adro da igreja está vazio, uma página em branco na história não é bom sinal. Ausência de pessoas é carência de palavras, os crisântemos de odor forte adornando a porta do templo iludem os forasteiros. As palavras rodopiam no ar impulsionadas pelo vento suave, não se vêm, aos ouvidos do silêncio clamam por gente ledora. Os fiéis não propagam as palavras, estão enclausurados no tempo, presos na luz brilhante das telas. Luz redentora, traidora das palavras, crentes tocando (...)
Chegaram ao último patamar da biblioteca, ou da vida, degrau a degrau, cada dia que passou foram páginas de um livro. A história não terminou ainda, na biblioteca ambulante olhares perscrutam palavras que os possam alimentar para continuarem no espaço livre que lhes resta, a serem melhores. Incansáveis, aqueles olhos decifram lombadas de uma ponta à outra, ambicionando encontrar o instrumento certo para os levar a ter confiança de algo bom lhes acontecerá. O local certo é a (...)
No Tramagal, quando o sol estava perto de atingir o topo, foi o momento da pequenada visitar a biblioteca ambulante, hoje foram menos, o almoço na escola estava na mesa para alguns que não podiam esperar. Os mais resistentes acompanharam a professora que trouxe histórias que os deleitaram, lidas na escola, decifradas, cada uma à sua maneira por cada um que respondeu às questões colocadas pelas professoras após as leituras. Levam outras, escolhidas por eles, sempre com a permissão (...)
A saga do vento continua nas viagens e andanças com letras, as meninas e os meninos vêm da escola perfilados, de mãos dadas, como elos para não voarem. É sempre assim todas as vezes que a biblioteca ambulante estaciona junto da escola, não perdem uma visita com a professora que os acompanha sempre. Trazem histórias para devolver, levam outras para que lhes as leiam na escola, são como as nuvens que sobrevoam a biblioteca ambulante. Empurradas pelo vento vêem e vão, chegam (...)
Todas as vezes que a biblioteca ambulante se desloca à vila do Tramagal, as sucessivas curvas e contracurvas originam sempre um turbilhão nas histórias. Esta impetuosidade no traçado da estrada, desordena sempre as histórias arrumadas nas estantes, O ruído reprimido ao caírem no chão é o primeiro indício de que algo não está correr bem lá atrás, o pouco espaço que se ganha, desencadeia a desordem, autores que nunca se cruzaram, agora estão abraçados, assuntos (...)
A névoa rasteira não permite descuidos na estrada de curvas seguidas, a conduzir a biblioteca ambulante nas viagens e andanças, em direcção ao Tramagal. Acrescentando a temperatura baixa, os cinco graus celcius que se colam no corpo de quem arrisca andar desprotegido, ou sem agarrar uma história nas mãos por exemplo, ainda a privação de leitores que sobe nos lugares do costume, dos encontros verdadeiros e deslumbrantes ao mesmo tempo. Onde a oralidade recruta (...)
Não existe regularidade na leitura, exceptuando uma escassa minoria nas aldeias da minha terra, é com prazer que o viajante das viagens e andanças oferece o jornal local, só para os observar a ler. Alguns estão debruçados de tal modo, parece que querem engolir as letras, mal se lhes vê o rosto. Sabem decifrar o conteúdo escrito, muitas vezes o movimento dos lábios a soletrar expõem a ausência da leitura no quotidiano destas pessoas. Ou mesmo a dificuldade na capacidade de (...)