A temperatura por enquanto mantêm-se equilibrada, ao contrário dos dias anteriores, em que o período da manhã caminhava a passo largo aos 30º. Felizmente, um vento leve vindo não sei de onde, permite uma manhã discreta, o desembaraço das histórias. A visita dos miúdos do infantário, estimulados, por saberem que irão arrancar palavras ainda ilegíveis. Agarrarem nas histórias, comunicarem entre uns e outros, vendo as imagens impressas, imaginando, revelando as suas (...)
Nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, não há monotonia, as flores silvestres abeiram-se da estrada, inundando o destino das histórias, de cores, acenando à biblioteca ambulante. Há curvas e contracurvas em direcção à vila do Tramagal, curvas apertadas, curvas abertas, onde passam as histórias. Onde deslizam mãos nas páginas dos livros, derrapando no corpo de uma mulher, poema, onde perdemos o discernimento, em cada uma das linhas, da silhueta (...)
O tempo envelheceu outra vez, o frio gosta de deambular na charneca, pelas aldeias da minha terra, nos sítios onde a biblioteca ambulante aguarda os leitores. Neste momento, depois de ter ido tocar à campainha do infantário, chamar os meninos para visitarem as histórias. Um pequeno grupo a gozar férias no ATL, aproxima-se com a responsável pela custódia deles. Sentam-se no chão, abrem as páginas perseguindo as letras, decifrando as palavras. Não são acanhados, aventuram-se na (...)
Sob a pressão da manta de histórias, a biblioteca ambulante fez-se à estrada após o almoço do viajante das viagens e andanças. Nas curvas, na estrada, a ziguezaguear em direcção à vila do Tramagal, as histórias mais distraídas caiam das estantes mais elevadas. Não podia desviar o olhar da estrada, atormentado moralmente, sem saber o estado dos personagens, se as letras se desligaram da acção das histórias. Nem sempre acontece esta desgraça, tento que aconteça cada (...)
Os ribeiros andam arrebatados pela água abundante que caí do céu, irreflectidamente, saltam margens, brincam ingenuamente sem avaliar as consequências. O mesmo não acontece com os leitores, a violenta depressão meteorológica retém-os nas suas casas, não se atrevem, vir ao encontro das histórias. Estas permanecem no mesmo lugar, nas estantes, olham para mim inofensivas, também eu estou anulado. Inquieto, a vigiar, o que pode sair do interior das páginas sem movimentos, alguma (...)
As nuvens continuam persistentes nos céus das aldeias da minha terra, há leitores como elas, têm uma relação constante com as histórias. Passam como as nuvens, pela extensa área onde estão as palavras ao vento, uma seara onde transformam as espigas em emoções. Não se cansam deste alimento, transformado pelo engenho mental. Hajam muitos mais a servirem-se dele, continuando a ceifar as palavras, nos campos semeados de letras. A biblioteca ambulante, espalhará o resto, como (...)
Felizmente as aldeias da minha terra estão limpas de fumo, o céu azul, com as crianças a visitarem a biblioteca ambulante. Uns pela primeira vez, outros já admitidos na iniciação da leitura, com as histórias, lidas pela professora na biblioteca ambulante, ou na escola. Hoje a turma veio toda, com o objectivo de fazerem novos amigos(as), personagens das histórias. Animais que falam, pessoas fantásticas que conseguem desafiar lobos, irem á lua, sem medo de monstros, a (...)
O calor comprime cada vez mais a mente, os movimentos, o sol é um ditador. Não permite tréguas, a sombra é uma enorme frigideira onde as histórias estão a fritar. Batatas fritas para os leitores consumirem, acompanhando com bebidas frescas. Pacotes coloridos, cheios de letras estaladiças, trituradas com sofreguidão. Vários sabores, aumentam a curiosidade de experimentarem a variedade existente na biblioteca ambulante. Vamos chamar-lhes “Reading Street”, um conjunto de (...)
OH! OHHHH! Senhor João! Senhor João! Ouvia a voz arrastando-se no ar do início da manhã, enquanto procurava uma nesga, entre os raios do sol, a ferirem-me a vista, ainda a acordar, tentando ver quem me chamava aquela hora. Finalmente alcanço o vulto, auxiliado pela mão a substituir a pala, reconheço uma leitora. Quando vai a Alferrarede, tenho dois livros para entregar. Não consegui dizer o dia, fazer uso da razão, repentinamente, não é oportuno nas primeiras horas do dia. Sem (...)
Um deles mencionou em voz alta que as histórias não falam. Imediatamente a professora corrigi-o, dizendo para todos, que as histórias, se exprimiam por palavras, e conviviam com quem lhes tocasse ou lesse. Nenhum deles hesitou, atiraram-se, os olhos mergulharam nas letras, nadaram no meio das linhas, rodeando as imagens lentamente. Quem os observasse, veria os peixinhos coloridos no aquário, nadando de um lado para o outro. Às vezes a rapidez das braçadas colocava-os num instante no (...)