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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

A biblioteca ambulante foi recebida na aldeia dos Casais de Revelhos por gotas de chuva miúdas.  Sempre cheguei à aldeia nos dias assinalados no calendário das viagens e andanças, nunca fui recebido como aconteceu hoje. Não há ninguém aguardando as histórias, a comparecer no sítio onde se encontram os conhecimentos acerca das diversas áreas do saber. Foi com a vontade da ex-presidente do município, natural desta aldeia, que esta biblioteca ambulante se fez à estrada. Nem (...)
No verão, nas viagens e andanças, o ar artificial libertado pelas tubagens oriundas do ventre da biblioteca ambulante, e o bibliotecário, demonstram grande amizade amizade. Um abraço desprende-se das entranhas, envolvendo-o numa frescura sem igual nestes dias de calor excessivo nas aldeias da minha terra. Não é um aperto constante, somente no tempo em que as histórias se deslocam de uma aldeia para outra. Depois, a separação e a saudade imediata, a vontade de se misturarem um no (...)
A temperatura do sol está irrequieta, seca-me a imaginação. O rio não tem corrente suficiente para levar as palavras criativas a jusante. Desaguar as mesmas nas páginas em branco do oceano salgado daquilo que não é verdadeiro. O suor está a esborratar as minhas costas, são várias as linhas escorrendo. Um caderno onde abundam rascunhos de palavras que perderam a aspereza. O som das cigarras a baterem as asas é o mesmo de uma filarmónica a tocar para as gentes da aldeia. É o (...)
Gonçalo Cadilhe, Paul Theroux, são uns dos muitos escritores viajantes. Por terra, no mar e no ar, visitam em toda a extensão, continentes, países, cidades, lugares. Com história, património natural, diferentes dos demais, não perdendo a oportunidade, algumas vezes, de utilizarem meios de transporte famosos. O Transiberiano, na Rússia, o Maharaja Express, na India, o Tren del Fin del Mundo, na Argentina e outros tantos, na ferrovia, atravessando desertos. Ultrapassando oceanos, à (...)
No início a arquitectura moderna está presente nas casas na aldeia dos Casais de Revelhos. Gente nova, outros mais velhos, optaram por reavivarem a vida, substituindo a urbanidade por um local mais tranquilo. Depois alcançamos as outras, ajeitadas pela arte da construção popular, as mais antigas. Cândidas, coladas umas às outras pela rua acima até ao lugar do costume, onde as palavras das histórias se recreiam no baloiço e no escorrega. No campo de futebol de dimensões (...)
É provável que estejamos no outono novamente, a aparência da manhã, como aquelas que se iniciam no mês de Setembro, até aos últimos dias do mês de Dezembro, vestindo-se de modo que pareça a estação do ano entre o verão e o inverno. A diferença está na duração dos dias, aumentam em vez de diminuírem. As viagens e andanças ficam fortalecidas com a temperatura amena que se faz sentir. Os leitores saem de casa, chegam, sem reclamarem por tudo e por nada. De sorriso aberto (...)
O sol vai alto, o calor aperta esta tarde, nas viagens e andanças. O cacarejar das galinhas sobrepõe-se, no lugar onde a biblioteca ambulante está estacionada. Não se vê ninguém, estão a dormir a sesta, ou no café, um costume, depois do almoço, também nas aldeias. A manhã não correu mal, a visita de leitores tornou o dia melhor, o vínculo de uma leitora com as histórias da biblioteca ambulante, foi a cereja no topo da manhã. Há dias bons, há dias maus, mas, olhando para (...)
O perfume das recentes flores invade o lugar onde a biblioteca ambulante aguarda os leitores, em Casais de Revelhos. O chilrear dos pássaros absorve todos os outros sons, os ecossistemas que cercam e coabitam na aldeia estão numa grande exaltação. Capaz de esquecer a pouca distância do casario, a vida animal continua alheia aos aldeões, a manterem diariamente as hortas em condições. Para que os legumes, as hortaliças cresçam sem ervas invasoras a importunar. Ao mesmo tempo, (...)
Resgatar memórias de há 50 anos atrás, a guerra colonial, amizade, reconhecimento. O fim da carnificina humana, a independência das colónias, os olheiros, informadores misturados na população, captando os diálogos, as ideias e acções que não estivessem em concordância na ideologia do regime de então. Quem fosse atrevido nas palavras, quase sempre era abordado para comparecer no posto da guarda mais próximo. As mulheres não votavam, somente os homens influentes das (...)
O nevoeiro é matreiro, num instante esconde, noutro descobre, automóveis, a transitarem à frente da biblioteca ambulante, lugares, a espreitarem quem passa na estrada. Na Associação Comunitária de Apoio à Terceira Idade de Mouriscas, alguns, que desfrutam do apoio da instituição, estão ausentes da vida, ou no caminho em direcção ao túnel, que lhes tirará a luz para sempre, têm momentos onde conseguem romper a neblina. Surpreendem, como se fosse ontem, as histórias estão (...)