O céu mostra ares de ter força para mudar o rumo da tarde nas viagens e andanças, com a claridade a dar um ar da sua graça. Parou de chover, embora as nuvens continuem por cima da aldeia, mas a luz que promove a tranquilidade dá possibilidade há especulação. O tempo vai melhorar de certeza, pelo menos nas próximas horas, virão leitores à biblioteca ambulante. Um rasgo azul abriu-se agora, uma porta para poderem sair de casa, até ao café, renovar as leituras, espreitar as (...)
Os guarda-chuvas, balançam conjuntamente com a passada de quem os segura abertos. Protegem-se da chuva, uns mais acelerados que outros. Daí, o motivo dos movimentos variados que os chapéus de chuva fazem, danças coreografadas por aqueles que os seguram na mão. A rua é um palco gigante, onde os bailarinos alegres, partem e chegam. A biblioteca ambulante, projecta a grande distância um intenso feixe de luz, direcionável, iluminando o palco ao seu redor. Atraindo os bailarinos, os (...)
A mulher aproxima-se da biblioteca ambulante a saracotear o corpo, mais perto, percebo, que uma das pernas vacila sempre que a empurra para a frente. O saco numa das mãos traiu-me, não é leitora, é uma aldeã a enfiar-se, numa, das duas ruas, a convergirem defronte da escola. Vestida de preto, viúva do passado, enfrenta o resto dos dias, a inquietar-se com o destino. Os raios do sol branqueiam as paredes das casas na aldeia do Pego, a chuva afastou-se, a temperatura acalmou o (...)
Os raios solares despertam as histórias, dando vida aos personagens no interior dos livros, tocando no rosto do velho, adormecido na sua cama. Dentro do feixe de luz, pairam partículas de pó movidas pela força propulsora do ar, que entra na pequena abertura da janela do quarto. A biblioteca ambulante está na aldeia, defronte da escola, vazia, as férias escolares afastaram os gritos das crianças, quando brincam no recreio correndo atrás umas das outras. Do fontanário, onde o velho (...)
A chuva colheu de surpresa as aldeias da minha terra, a biblioteca ambulante. As histórias pulam de alegria, o calor sumiu-se, as palavras lêem-se melhor, não ficam fatigantes aos olhos dos leitores. A leitura torna-se agradável e dilui-se facilmente num momento prologando num dia de férias. A chuva bate levemente na biblioteca ambulante para não assustar as histórias, quer entrar, não quer fazer desaparcer as letras. A rua não tem pessoas, transitam os automóveis, (...)
A tarde perdeu as estribeiras, com a temperatura a galgar o limite estabelecido neste mês. As frontarias brancas, das casas do largo do café, na aldeia da Concavada, sobressaem com o brilho estampado do sol. As molduras de cor azul em torno das janelas, a linha da mesma cor, a delinear as fachadas. Em tudo semelhantes a pedaços de pano, bordados por mãos experientes na costura, na vida. Paredes com histórias, protegendo bocados de memórias, trechos de lembranças, fixados nos (...)
A temperatura mais elevada entrou juntamente com a tarde. Na aldeia da Concavada, a primavera está rodeada pelos odores das flores, pelos pássaros que não param de rodear a biblioteca ambulante. Procuram alguma migalha, talvez palavras soltas, necessárias aos pintos, uma vez que a maioria das pessoas não as procuram, não lêem. O sol brilha no largo do café, vigiado sob o olhar sério do poeta António Botto, representado no mural homenageando o autor, nascido na aldeia. Nas (...)
Gamos numa quinta a ruminarem enquanto observam intrigados a biblioteca ambulante, sem se assustarem. Comentam entre uns e outros, consigo ouvir o que dizem, se não haverá histórias protagonizadas por animais. se há narrações com animais da sua espécie. Poderiam saltar a vedação, entrarem na biblioteca ambulante. Os sussurros chegam aos meus ouvidos com bastante curiosidade. O viajante das viagens e andanças, não ficaria aborrecido, talvez fosse a primeira vez que animais (...)
As férias escolares estão aí, a chuva abriu-lhes a porta, o mais estranho é a ausência de jovens, o desinteresse destes na permanência da biblioteca ambulante, nas suas aldeias. Os pais destes serão leitores, adquiriram alguma vez rotinas de leitura, houve algo semelhante nas suas vidas. Talvez, a obrigatoriedade escolar lhes impusesse leituras, pouco mais terá sido a experiência exploratória nas histórias. São objectos raros nas casas, ou do outro mundo, à vista de todos, (...)
A primavera abraçou a tarde com habilidade, os leitores não se lembram da biblioteca ambulante estacionada, esperando-os impaciente no largo, na aldeia da Concavada. Há quem caminhe pelo largo ansioso, atrasado, para algum compromisso, pela roupa vestida, está em horário de trabalho, os pingos de tinta seca nas calças, na camisola, dizem que é pintor na construção civil. Entrou no café, talvez uma bica, ou uma mini fresca, momento motivacional para o resto da tarde no trabalho. (...)