O sol na ficção literária pode ser uma nave não tripulada, imóvel, a disparar traços de luz contínuos. Fulminando o planeta, aquecendo a água dos oceanos, colocando a atmosfera em movimento. Um pintor criando a melancolia o renascimento, o desejo, a introspecção. Na Aldeia do Mato, povoação de braço dado, com o rio Zêzere, a biblioteca ambulante, arremessa palavras, acertando nas pessoas, quando, caminham próximo do auge, das histórias. A sombra, lentamente conquista o (...)
O ar quente entranha-se no interior da biblioteca ambulante, as silhuetas no horizonte assemelham-se a bailarinos dançando no céu. O som contínuo, dos dragões a sobrevoarem as histórias inquieta-me, o silvo afasta-se, regressa pouco depois, de espreitarem as outras aldeias da minha terra. Temo pelas histórias, quando sopram o fogo. Desconfio, de quem os convocou, o isolamento das terras do interior, a sobranceria dos eleitos. O contentamento, a despreocupação, caminham numa rua (...)
A biblioteca ambulante não progride nas viagens e andanças como as nuvens, vai na direcção das aldeias da minha terra, segue os futuros leitores, acompanha os leitores. Nas nuvens estão aqueles que vêm com regularidade junto das histórias. Avançam com intuição nas histórias que lêem, há dias, ninguém os consegue seguir, noutros, não há melhor do que estarem sentados num banco, no jardim, a observarem panoramas. As histórias são substâncias, puxam a ponderação, (...)
Os campos amarelos, são minas de ouro à superfície, mais, do que propriamente flores dançando ao vento. De uma riqueza natural, atraindo o olhar de quem passa, as flores amarelas podem ornamentar, em forma de arco semicircular a cabeça das mulheres. As aldeias da minha terra, as rainhas, das viagens e andanças. As pessoas, os leitores, todos os que queiram ver, cheirar e sentir, as pétalas. As folhas florais que compõem, a história para levar para casa, não para colocar numa (...)
A neblina está presente na aldeia de Rio de Moinhos, são dez horas da manhã, e os casacos fazem parte da indumentária das pessoas. A primavera está a olhos vistos moribunda, não há dia em que não chova, sem sol, ou faça algum frio. Sempre que a noite chega, fico em apuros, em casa, num canto da sala, há uma manta de sobreaviso, para o caso de ser necessária, para me tapar. A lareira está fora de hipótese, a insuficiência de lenha, não alimentaria o vão aberto na parede, (...)
A estrada rompe o tempo pelas aldeias adentro, são várias as mulheres defronte das casas, segurando sacos de pano, ou plástico. Esperam pela carrinha do padeiro, mexericam, agarram o sol, antes que fique tapado pelas nuvens. Os telhados das casas do largo, brilham debaixo dos raios do sol, na aldeia do Tubaral. Os cães ladram às nuvens, estas não se amedrontam com os latidos. Não se vê ninguém, há esperança, a vinda de uma leitora pode ser verdade. A laranjeira continua cheia (...)
A aldeia da Foz, encontrava-se localizada no fim do mundo, no meu pensamento, quando aqui cheguei pela primeira vez. Continuei a voltar, até hoje, o resultado da opinião que tinha do inicio, não é o mesmo. O isolamento, a escassa população, sem serviços básicos, os problemas da interioridade, em tudo, semelhantes a todas as outras aldeias da minha terra. Encostada ao concelho da Chamusca, é uma porta, para uma grande extensão, da vida silvestre no Ribatejo. Caracterizada (...)
As nuvens esfregam os olhos, para não deixarem cair lágrimas, na aldeia do Souto voltou a usar-se agasalhos, a roupa de bem estar, e de protecção do frio. Como podem as palavras serem guarnecidas de asas para voarem sobre a aldeia. As nuvens baixas, comprimem, a faculdade de inventar histórias, a decisão dos leitores de saírem à rua. Nela, movimentam-se para se dirigirem ao mini-mercado, atravessar a rua, clarificarem ideias, sachar a terra nas hortas. Na direcção da biblioteca (...)
Nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, não há monotonia, as flores silvestres abeiram-se da estrada, inundando o destino das histórias, de cores, acenando à biblioteca ambulante. Há curvas e contracurvas em direcção à vila do Tramagal, curvas apertadas, curvas abertas, onde passam as histórias. Onde deslizam mãos nas páginas dos livros, derrapando no corpo de uma mulher, poema, onde perdemos o discernimento, em cada uma das linhas, da silhueta (...)
A temperatura mais elevada entrou juntamente com a tarde. Na aldeia da Concavada, a primavera está rodeada pelos odores das flores, pelos pássaros que não param de rodear a biblioteca ambulante. Procuram alguma migalha, talvez palavras soltas, necessárias aos pintos, uma vez que a maioria das pessoas não as procuram, não lêem. O sol brilha no largo do café, vigiado sob o olhar sério do poeta António Botto, representado no mural homenageando o autor, nascido na aldeia. Nas (...)