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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Em Rio de Moinhos o ruído do motor do cartepílar de um lado para o outro próximo da biblioteca ambulante, deixa o viajante das viagens e andanças incomodado. Foi de manhã, acontece outra vez no período da tarde. Está a ser um dia de outono perturbado pelo som de uma ferramenta a cortar pedra, a buzina intermitente do tractor constantemente alertando a sua deslocação aos mais distraídos. Só não ouço a voz dos trabalhadores, concentrados no exercício da sua actividade. A (...)
O som da televisão chega à biblioteca ambulante, a obscuridade no interior do café não me impede observar um homem sentado com o rosto na direcção da televisão. Num canto, ao fundo do estabelecimento, distingo um vulto sentando, ao contrário do primeiro a sua cabeça está descaída, o sono apanhou-o de surpresa. A luz solar enche o pequeno largo, exceptuando a biblioteca ambulante, um leitor a explorar as histórias, não se passa mais nada. Os enfeites das festas de verão na (...)
16 Ago, 2024

Ambos escrevem ...

O calor é uma cola, é maçador, apesar da copa das amoreiras protegerem a biblioteca ambulante com a sombra. Um trabalhador com o tronco desnudado, coloca numa betoneira, areia, cimento e água. O tambor gira como se fosse um satélite em torno da imaginação do arquitecto que idealizou a construção. O escritor para escrever também tem de girar as ideias na cabeça para conseguir construir a história. Ambos escrevem com ferramentas diferentes, edificando paredes, folhas em branco, (...)
A corrente de ar entra sem ser convidada, traz o canto das cigarras, a fresquidão numa tarde de verão. Acompanha-a as palavras fortes do vento, as melodias dos pássaros, o eco das páginas nas histórias, a avançarem perante os olhares empolgantes dos leitores da biblioteca ambulante. Talvez seja o motivo pelo qual só ter vindo um leitor à biblioteca ambulante esta tarde até ao momento. Os outros apressam a leitura, falam com os personagens, dizem-lhes para tornarem mais rápido as (...)
A manhã não está completamente vestida, e o calor apanhou-a desprevenida. Apesar da sensação de mal-estar, esta não teve outro remédio, continuou a vestir-se, escolhendo ao pormenor a roupa adequada para enfrentar a temperatura elevada. Pouco tempo depois de estacionar a biblioteca ambulante na aldeia de Rio de Moinhos, entra a primeira leitora, precedendo os outros leitores, sempre que me demoro na aldeia. Esta difere dos outros leitores, testando a tolerância do bibliotecário, (...)
Um bando de pombos voa aos círculos, aumentando a área de voo, a cada passagem sob a biblioteca ambulante. São pombos correio, treinam, geralmente uma hora por dia, desenvolve o apetite, os músculos, os pulmões e outros órgãos. Adquirem métodos consensuais com o tratador, têm de se comportar como ele quer que se comportem. A presença de um leitor desviou a minha atenção para a maneira de voar dos pombos. Depois de muito escolher, o leitor saiu, voltei a olhar o céu azul, os (...)
Em Rio de Moinhos as andorinhas voam raso, quase tocando o alcatrão na rua. Este comportamento nestas aves é pronuncio de chuva nos próximos dias, é um dito popular. A instabilidade climática está a alterar os ecossistemas, as andorinhas também são agarradas pelas incertezas do tempo. Hoje vi uma reportagem na televisão, na praia da Nazaré, na qual foi abordado a inexistência de nadadores salvadores nas praias para além do período estival. Podem ser excessivamente ridículas, (...)
Os espaços na rua, possíveis para o estacionamento da biblioteca ambulante na aldeia da Amoreira, estavam ocupados. Quando assim é, a solução é seguir em frente, na direcção de um espaço amplo, rodeado por amoreiras. No verão geram uma sombra agradável, onde as histórias se acalmam da inclemência do sol abrasador. Hoje não há sol, não está frio, a temperatura delicada resiste, aos comentários, vários, dos leitores, das pessoas, relacionados com as eleições do dia de (...)
A porta aberta aos leitores, não é suficiente para seduzir os curiosos, ao passarem, nunca deixam de olharem para o interior da biblioteca ambulante. As histórias em sentido, direitas, na parada, acumulada de páginas escritas, esperam pela inspecção detalhada dos leitores experientes. Deitadas estão as mais novas, ao verifica-las, levantarão as mesmas, descobrindo que nunca as tinham visto em linha com as outras. São as primeiras a ausentarem-se na missão, comandadas por dedos (...)
O calor na aldeia da Amoreira trouxe leitores à biblioteca ambulante, a reabilitação total de um prédio, vai de vento em popa, meia dúzia de operários repõem estruturas novas, erguem paredes, cobrem intervalos de tempo, lugares de histórias. Espaços que guardam memórias, ambicionando novas sensações. O fontanário desafia quem aqui habita, água inesgotável para saciar a sede, os trabalhos domésticos, limpar almas. Canta histórias, os lamentos da aldeia, todas as vezes que (...)