A água na bica não se cansa de correr, é a terra a expressar-se, a revelar-se aqueles que matam a sede na fonte, ao viajante das viagens e andanças. Ao bebermos dela ouvimos confidencias, as palavras alegres, os queixumes, a leviandade de alguns a cuida-la. Na Aldeia do Mato a leitora aproxima-se a mencionar que não vai levar histórias, só quer conversar comigo, está acordada há algum tempo e sou a primeira pessoa que encontrou. Aos seus olhos os terrenos e casas abandonados e (...)
As rajadas do vento sacodem a biblioteca ambulante, na Atalaia, aldeia altaneira onde a vista se estende até mergulhar nas águas do rio Zêzere na albufeira do Castelo do Bode. Só com abundantes roupas a cobrir o corpo se consegue percorrer as poucas ruas da povoação, é o que usam as pessoas na aldeia da cabeça aos pés. O sopro do vento dobra as árvores de tal maneira que as copas não desistem de tocar no chão, estão assim de um lado para o outro sem conseguirem enfrentar o (...)
O frio não demove a chuva mesquinha a cair obstinadamente nesta manhã na Aldeia do Mato. Sem abrir as portas da biblioteca ambulante espero pacientemente por leitores aventureiros. Estou como o pescador lá em baixo no rio, aguardando sem perder a calma que o peixe caia na armadilha presa no anzol. Não têm conta os lançamentos da linha de pesca efectuados para a água até o peixe ser apanhado nas falsas afirmações do isco. No interior da biblioteca, sem linha, com a chuva a (...)
O vento despertava a água, injuriada formava pequenas ondas que cruzavam a superfície esverdeada do rio, acabando por se despedaçarem umas nas outras e na margem. A temperatura era assim mascarada pelo ar em movimento. Quem estava exposto a estes elementos, não passava despercebido ao que acontecia no rio. Um indivíduo envergando um colete, calças, na cabeça um chapéu tradicional marroquino, óculos de sol no rosto não parava de se exibir em cima de uma pequena prancha, (...)
A charneca por onde a biblioteca ambulante desenvolve a sua missão, rolando nas estradas estreitas, sinuosas, de subidas íngremes, de descidas aceleradas, nesta altura estão cheias de plantas silvestres no auge da floração, onde se destacam as flores brancas das estevas que se multiplicam aos milhares no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O seu aroma é doce e a cor branca faz lembrar a neve que por aqui nunca se vê. Esta planta tem (...)
As águas de uma das muitas extensões do rio Zêzere beijam os alicerces das casas no lugar de Sentieiras do Souto, o viajante das viagens e andanças na biblioteca ambulante, ao atravessar a rua estreita e mais importante quase molha a mão quando estende o braço. O rio fica para trás com as suas histórias, as outras continuam na subida íngreme na direcção da aldeia das Fontes. Altaneira de gentes simpáticas, situada defronte do rio, onde este se deforma, engordando (...)
Fui ver o rio, e o rio disse-me que estava arrepiado. Há muito tempo, leu uma história que lhe meteu medo. Foi de manhã cedo, o sol ainda não havia acordado. Ficou revoltado, na aldeia não acontecia alegria, as casas da aldeia estão vazias, não há cortesias, há melancolia. Tinha saudades do verão, das novidades que trarão, das pessoas novas que virão, na união dos que cá estão com os emigrados, os desconhecidos. Dos mergulhos, das brincadeiras, companheiras das manhãs, (...)
Na aldeia do Souto só o ruído proveniente dos ramos das árvores impelidos com violência pelo sopro do vento se ouve. Nem de perto, nem de longe se vê alguém, quem transita pelas ruas da aldeia, como a biblioteca ambulante, devagar, com o viajente das viagens e andanças a olhar de um lado para o outro, sondando. Um caçador de leitores, perscrutando ruelas, as quinas, os recantos da povoação, percebendo que o frio desta vez vai ganhar, ainda por cima, uma massa (...)
O sol ainda tentou, mas o enfraquecimento da temperatura sente-se nos ossos, é o frio o personagem principal do dia e das histórias de hoje, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Pelo menos o viajante das viagens e andanças foi às gavetas do vestuário de inverno escolher uma camisola que o possa agasalhar mais logo, quando rumar para as aldeias do Souto e Fontes. Situadas em relevos altaneiros, observando o rio Zêzere com orgulho, estas aldeias com (...)