Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

As nuvens são vagas no céu, a rebentarem nos meus olhos, o mar está agitado, as histórias a areia onde os leitores molham a curiosidade. O pior já passou, foram momentos de muita ventania com chuva e vento à mistura nos últimos dias. A temperatura obriga-nos a vestir roupa de verão, as portas abertas na biblioteca ambulante permitem que a escassa corrente de ar penetre, que os leitores avistem as palavras espreitando por detrás das brochuras. Com muita vontade de embeberem a (...)
A biblioteca ambulante prolonga a sua permanência na Festa do Futuro, outro dia, outras pessoas, oriundas de concelhos limítrofes, numa união nunca vista na aldeia. Rostos surpresos quando deparam com a sua presença na aldeia, relembrando a outra, noutro tempo. Os da cidade grande, onde é fácil aceder ao futuro, não sabiam da existência da biblioteca ambulante, um lugar onde as pessoas das aldeias da minha terra, têm um sítio permitindo acessibilidades ao futuro. Noto até ao (...)
A tarde amena na aldeia do Souto, trouxe a biblioteca ambulante à Festa do Futuro, um conjunto de actividades numa aldeia, igual a todas as outras aldeias da minha terra, onde não acontece nada. Exceptuando as romarias anuais, os funerais, os casamentos, cada vez mais raros e aparatosos. As crianças aprendem jogos tradicionais, fazem inscrições numa parede, perpetuam a Festa do Futuro, o dia em que as histórias também são uma fracção do evento. O futuro da aldeia depende dos (...)
O sol conseguiu demover as nuvens que pairavam teimosamente em cima da aldeia do Souto. O brilho abriu a porta, encaminhou um pequeno grupo de mulheres para o meio da rua, a conversa entre elas ecoava pela aldeia. Quando se afastaram foi a vez de ouvir os pássaros iniciarem um concerto no coreto da aldeia, a música melodiosa é dirigida pelas asas do vento agradável. Este é interrompido pelo som do relógio da torre sineiro a bater as onze horas, os músicos no coreto desapareceram (...)
Há mais automóveis estacionados na aldeia, modernos, alguns usados pela primeira vez na visita à aldeia, nas férias. Há pessoas novas na rua, falam com um tom de voz mais elevado. São protagonistas durante os dias de descanso, nas casas dos avós, dos tios, nas casas fechadas... Após o regresso das famílias no verão, abrem-se portas e janelas, para deixarem sair as histórias da última vez que a usaram. O cheiro peculiar dos espaços não arejados também desaparece. Sai a (...)
Na aldeia do Souto a manhã caminha sozinha, não vejo pessoas na rua, de mãos dadas com a aragem fresca, no sítio onde as histórias estão abrigadas dos raios do sol. Há que aproveitar ambas, daqui a pouco o calor vingará quem ousou partilhar os primeiros momentos do dia com o frescor matinal. As histórias não vão ficar na aldeia para sempre, voltarão quando o mês de Agosto for dividido, com a chegada dos que estiveram de férias, por aqueles que as iniciarão precisamente (...)
A claridade persiste frouxa após o raiar do dia, depois da viagem até à aldeia do Souto. A rua deserta, com vestígios da queda da chuva durante a noite, não traz as pessoas ao ponto mais importante da aldeia. O local onde estão as histórias, a igreja, e o coreto. O conhecimento, a religião, o estrado erguido no pequeno largo. A cultura, e tradição, unidas como as amigas íntimas. O empenho dos antepassados da aldeia, a resiliência da biblioteca ambulante, a olharem a rua que (...)
Dentro da aldeia, próximo da mercearia, vejo um homem a sair desta, apoiando com uma das mãos metade de uma melancia. A maneira delicada a transportar o fruto, pôs-me a imaginar como seria a trazer histórias à biblioteca ambulante. Frutas originárias das ideias dos escritores, de tamanho variável, entre o grande e o pequeno. De formato rectangular, com casca lisa de cores diversas e fina, ou rugosa e grossa. Têm uma polpa muito suculenta, geralmente branca, embora possam surgir na (...)
06 Mai, 2024

Pode consertar ...

Iniciar outra semana nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, numa manhã sem nuvens, cheia de brilho. A fazer conjecturas como será o resto do dia, se os leitores marcarão presença na biblioteca ambulante, se a escolha das palavras, irá entusiasmar as pessoas que lêem na aldeia. Atrair outros a perceberem o quanto é importante estar activo com uma história nas mãos. O vento levantou-se durante a curta viagem para outra aldeia, quer apropriar-se da (...)
Estão duas mulheres a especar a biblioteca ambulante, sem pararem de falarem uma com a outra, não tiram os olhares. Não sei o que estão a escorar na direcção das histórias, quererão estabilizar os leitores na aldeia, criando uma relação com as histórias. Há mais não leitores, do que aqueles a frequentarem a biblioteca ambulante. Não existe equilíbrio, há uma assimetria manifestamente tendenciosa aos que não lêem. Em todas as aldeias da minha terra acontece esta (...)