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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

As nuvens continuam persistentes nos céus das aldeias da minha terra, há leitores como elas, têm uma relação constante com as histórias. Passam como as nuvens, pela extensa área onde estão as palavras ao vento, uma seara onde transformam as espigas em emoções. Não se cansam deste alimento, transformado pelo engenho mental. Hajam muitos mais a servirem-se dele, continuando a ceifar as  palavras, nos campos semeados de letras. A biblioteca ambulante, espalhará o resto, como (...)
Felizmente as aldeias da minha terra estão limpas de fumo, o céu azul, com as crianças a visitarem a biblioteca ambulante. Uns pela primeira vez, outros já admitidos na iniciação da leitura, com as histórias, lidas pela professora na biblioteca ambulante, ou na escola. Hoje a turma veio toda, com o objectivo de fazerem novos amigos(as), personagens das histórias. Animais que falam, pessoas fantásticas que conseguem desafiar lobos, irem á lua, sem medo de monstros, a (...)
O calor comprime cada vez mais a mente, os movimentos, o sol é um ditador. Não permite tréguas, a sombra é uma enorme frigideira onde as histórias estão a fritar. Batatas fritas para os leitores consumirem, acompanhando com bebidas frescas. Pacotes coloridos, cheios de letras estaladiças, trituradas com sofreguidão. Vários sabores, aumentam a curiosidade de experimentarem a variedade existente na biblioteca ambulante. Vamos chamar-lhes “Reading Street”, um conjunto de (...)
OH! OHHHH! Senhor João! Senhor João! Ouvia a voz arrastando-se no ar do início da manhã, enquanto procurava uma nesga, entre os raios do sol, a ferirem-me a vista, ainda a acordar, tentando ver quem me chamava aquela hora. Finalmente alcanço o vulto, auxiliado pela mão a substituir a pala, reconheço uma leitora. Quando vai a Alferrarede, tenho dois livros para entregar. Não consegui dizer o dia, fazer uso da razão, repentinamente, não é oportuno nas primeiras horas do dia. Sem (...)
Um deles mencionou em voz alta que as histórias não falam. Imediatamente a professora corrigi-o, dizendo para todos, que as histórias, se exprimiam por palavras, e conviviam com quem lhes tocasse ou lesse. Nenhum deles hesitou, atiraram-se, os olhos mergulharam nas letras, nadaram no meio das linhas, rodeando as imagens lentamente. Quem os observasse, veria os peixinhos coloridos no aquário, nadando de um lado para o outro. Às vezes a rapidez das braçadas colocava-os num instante no (...)
A primavera continua frouxa, boa para as pessoas alérgicas ao pólen. Assim como eu, enquanto esta sobe pelos próprios meios, apesar das investidas de alguns elementos naturais mais perturbadores, até ao verão. A sensibilidade às substâncias microscópicas vagueando aleatoriamente no ar, não me deixam descansado. Há uma árvore alta, perto do local onde a biblioteca ambulante permanece, no meio da folhagem, saltitando de ramo em ramo, os pequenos pássaros levam uma existência (...)
O sol umas vezes está escondido, noutras surge brilhante, dificultando a observação a uma possível vinda de um leitor. Na aldeia do Crucifixo são poucos os que se atrevem, um deles, é uma jovem, regressa da escola no autocarro, cuja, paragem é logo a seguir ao sítio da permanência da biblioteca ambulante. Tem dias que inverte a direcção do seu destino para entrar e escolher uma história para levar. O meu olhar dirige-se sempre que ouço um som de motor ao longe, no sentido da (...)
A manhã começa a ficar abrasadora, mesmo assim os meninos do infantário compareceram na biblioteca ambulante. Acompanhados pela professora, segurando as mãos uns dos outros, uma corrente para agarrarem um futuro com mais igualdade, entraram cheios de curiosidade, olhando imediatamente para as histórias. Estas pulando de contentamento nas estantes, denunciavam muita determinação em saltarem para as mãozinhas da pequenada. Mãos, ainda, com pouca experiência a folhearem as (...)
A biblioteca ambulante, é e será sempre uma janela aberta nas aldeias da minha terra. Onde os aldeões, os leitores, possuem a sorte, estarem debruçados para a Rua dos Saberes. Verem passar as palavras, as letras de mãos dadas umas com as outras, conhecerem de perto quem as empurra pela rua adiante. Há sempre olhares sedutores de quem passa, para quem está sempre de olho à espreita. A torrente de palavras na rua não tem fim, umas atrás das outras, a provocarem risos, a puxarem (...)
O barulho é ensurdecedor, o espaço exterior do infantário é o estaleiro das obras necessárias à reabilitação do mesmo. Amontoam-se resíduos de alvenaria, e outros materiais obsoletos, ampliam-se as salas, dão-se condições melhores para as crianças, professoras e auxiliares. A biblioteca ambulante complementa a necessidade literária nos dias da visita à vila do Tramagal. Não é uma estranha aos olhos dos miúdos, conhecem-na, frequentam-na, estão habituados a retirarem (...)