As nuvens continuam persistentes nos céus das aldeias da minha terra, há leitores como elas, têm uma relação constante com as histórias. Passam como as nuvens, pela extensa área onde estão as palavras ao vento, uma seara onde transformam as espigas em emoções. Não se cansam deste alimento, transformado pelo engenho mental. Hajam muitos mais a servirem-se dele, continuando a ceifar as palavras, nos campos semeados de letras. A biblioteca ambulante, espalhará o resto, como (...)
O sol continua oculto sob a camada impenetrável de nuvens cinzentas, manifestando a intenção a qualquer momento de não susterem a água acumulada. A primeira hora no segundo período do dia, trouxe mais brilho, o som estrondoso de uma porta a bater, sobressaltando os personagens das histórias, e o viajante das viagens e andanças. A mulher saiu disparada, de acordo com o movimento desajeitado do andamento, falando sozinha. Sei lá o que irá proferindo com os botões da bata que (...)
A biblioteca ambulante foi recebida na aldeia dos Casais de Revelhos por gotas de chuva miúdas. Sempre cheguei à aldeia nos dias assinalados no calendário das viagens e andanças, nunca fui recebido como aconteceu hoje. Não há ninguém aguardando as histórias, a comparecer no sítio onde se encontram os conhecimentos acerca das diversas áreas do saber. Foi com a vontade da ex-presidente do município, natural desta aldeia, que esta biblioteca ambulante se fez à estrada. Nem (...)
O céu esta manhã parece um vidro fosco, deixando passar a luz, sem permitir distinguir a cor azul. A sombra da árvore na parede faz-me lembrar o cabelo desguedelhado de um leitor a chegar apressado, esquecendo, por pouco, da presença da biblioteca ambulante no seu bairro. Não está frio apesar das nuvens insistirem em tapar o sol nas viagens e andanças. Poucas são as pessoas a passearem em volta do espaço verde, a dirigirem-se a qualquer lado. A área é sobrelotada por grandes (...)
Os primeiros alvores anunciavam o que seria a temperatura, que incomoda ao início desta tarde. Está calor, parece verão, não se despediu há muito de nós. Deixou para trás uma sensação produzida pela acção do sol, um simpático nível térmico, a roçar o exagero, na estação meteorológica em que estamos. Depois de uns dias mais frescos, com alguma chuva à mistura, voltar aguentar tudo outra vez, o calor, a melancolia, o desalento, do tempo a correr devagar debaixo de um (...)
Há quem continue a ficar surpreendido, sem saber bem que veículo é este, que estaciona nos sítios mais pequenos, afastados de tudo e de todos. A biblioteca ambulante é uma aventura, é magia, a história das pessoas. Que escrevem, que lêem, dos lugares menos improváveis onde encontrar leitores, da charneca sempre misteriosa, das criaturas esquisitas, folheando o tempo todo com estranhos movimentos nos dedos, concentrados, num objecto mais ou menos volumoso, conforme a área onde (...)
Na aldeia das Bicas, o sol rompeu com o cinzentismo dominante desde que o dia amanheceu. Uma revolução celestial que terminou de vez, na aldeia, com a opressiva pluviosidade. A biblioteca ambulante tem as suas portas abertas de par em par, sem condenações ou repressão social. Todos podem aproximarem-se, entrarem, sem se molharem no exercício livre da leitura. A primeira metade do dia foi bastante opressiva, a chuva não permitiu quaisquer ligeirezas, naqueles que gostam de ler. Não (...)
As folhas das árvores denunciam a presença do outono, cores quentes começam a despontar pela charneca adentro, as romãs penduradas nos ramos espinhosos da romãzeira aguçam o olhar do viajante das viagens e andanças. Os chuviscos irritam as pessoas, transpõem o lugar onde a biblioteca ambulante está parada, sem olharem, sem uma breve saudação às histórias. Querem sair da rua o mais rápido possível, a chuva é fraca, ainda assim mantendo-se com o intuito de molhar. Na (...)
Os aguaceiros estão de passagem, limpam as memórias que o vento deixou. Trazem apontamentos novos, ficou para traz uma página, lê-se outra e mais outra, vamos andar nisto até o tempo se cansar de nós. A tasca do Ti Zé e a mercearia com o mesmo nome, na aldeia da carreira do Mato, encerraram de vez. Talvez aguardem por outro contrato para transferirem a propriedade a outro interessado. Num lugar pequeno como este o fecho de ambos os estabelecimentos, isolou ainda mais a aldeia. A (...)
Em Rio de Moinhos o ruído do motor do cartepílar de um lado para o outro próximo da biblioteca ambulante, deixa o viajante das viagens e andanças incomodado. Foi de manhã, acontece outra vez no período da tarde. Está a ser um dia de outono perturbado pelo som de uma ferramenta a cortar pedra, a buzina intermitente do tractor constantemente alertando a sua deslocação aos mais distraídos. Só não ouço a voz dos trabalhadores, concentrados no exercício da sua actividade. A (...)