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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Tempos difíceis

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Mais uma tarde com temperatura demasiadamente elevada para a primavera, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O itinerário de hoje rumou até às aldeias da Barrada e S. Facundo, nesta última ao chegar, avisto aldeões idosos refrescando-se na boleia da aragem que se faz sentir no espaço onde a biblioteca ambulante habitualmente estaciona. Salvo um, todos os outros não sabem ler, nunca frequentaram a escola, cresceram nos anos da fome, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Foram obrigados a trabalhar muito novos, alguns com oito anos, para acrescentar mais algum amparo nos gastos das suas famílias. Uns fugiam à labuta diária, denunciados pelos próprios pais à Guarda Republicana, esta procurava-os como se fossem delinquentes, colocando-os novamente a trabalhar nos campos, do nascer ao pôr do sol. Assim estão os seus corpos, mal conseguem andar, têm de ser apoiados por bengalas e muletas, pelas auxilares do lar de dia, onde passam o tempo até ao entardecer. Regressam as suas casas após o jantar, tempos difíceis.