Tenho saudades
A charneca por onde a biblioteca ambulante desenvolve a sua missão, rolando nas estradas estreitas, sinuosas, de subidas íngremes, de descidas aceleradas, nesta altura estão cheias de plantas silvestres no auge da floração, onde se destacam as flores brancas das estevas que se multiplicam aos milhares no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O seu aroma é doce e a cor branca faz lembrar a neve que por aqui nunca se vê. Esta planta tem propriedades medicinais, o seu óleo é um bom regenerador da pele, além de aliviar as picadas dos insectos mais atrevidos nos meses de calor. Tenho saudades das viagens e andanças, dos lugares afastados, que actualmente se tornaram próximos de todos os que estavam distantes. Tenho saudade das ribeiras, dos acessos que as transpõem, do rio que no seu início é delgado e corre por estreitas escarpas, transformando-se num barrigudo pela acção do homem. Tenho saudades do outro que atravessa a península e que fala duas línguas,tenho saudades dos rebanhos, das manadas que não se aborrecem de comer as ervas, as bagas silvestres. Tenho saudades dos leitores, dos outros que não lêem, dos que nunca leram, mas que nunca deixam de se aproximar. Tenho saudade de conduzir a biblioteca ambulante, engrenar as mudanças de força, as de velocidade, saudades de acelarar, de virar à direita, à esquerda. Saudades de estar nas aldeias.