Trazerem leitores do passado ao presente ...
Telhados deitados abaixo, um desastre que se tornou normal nas aldeias, nos núcleos absoletos da maioria das nossas cidades. Histórias desconhecidas, heranças descontinuadas, gerações interrompidas, sem representação. Há pouco alguém pediu se podia entrar na biblioteca ambulante, só queria observar, após o primeiro passo no interior, as palavras saíram-lhe naturalmente, as memórias que eu tenho disto. Continuando, disse, o senhor Diniz quando chegava à minha aldeia já trazia os livros que eu queria separados dos outros, a conversa não ficou por aqui, mas bastaram estas palavras, a felicidade expressa no rosto, para cravar a importância das bibliotecas ambulantes na vida das pessoas de então. Ainda o são, mas não é mesma coisa, há leitores fiéis, gostam de histórias, dos autores que as escrevem, de abrirem pela primeira as páginas, sentirem o odor da tinta impressa. A necessidade de informação não é a mesma, actualmente está em todo o lado, jornais, smartphones, televisão, e rádio. Noutros tempos a escassez, a proibição e ocultação inibiram potenciais leitores, quem conseguiu ultrapassar a barreira recorreu às bibliotecas ambulantes incansáveis, únicas a trilharem o interior do país. Nestes exíguos espaços procuravam a informação como quem queria encontrar um tesouro, cresceram com as histórias, estão activos intelectualmente. Agora lesse por prazer, a descobrir lugares, a conhecer personagens, anónimos como nós, vidas vulgares, reveladoras de histórias merecedoras de atenção. Nas bibliotecas ambulantes a filiação não parou, não desabaram coberturas, há viajantes das viagens e andanças a transmitirem heranças, a fazerem com que aconteçam memórias, a trazerem leitores do passado ao presente, fui um privilegiado hoje.