Trouxe as histórias dela
Na aldeia da Barrada a tarde avança devagar, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, uma leitora veio procurar histórias, com ela trouxe as histórias dela. Relatos de outras épocas, a propósito do início da feira na cidade de Ponte de Sôr, reclinada no território das viagens e andanças, não muito longe desta aldeia. Conta-me, quando ainda menina, foi muitas vezes de carroça com os pais, puxada por bois, com ela iam os outros todos, a aldeia esvaziava-se da população, seguiam em fila, os carros de bois enfeitados, os animais com guizos pendurados, as mulheres adultas e as solteiras estreavam roupas, muitos namoros tinham o seu começo nos dias da feira. Dos juncos adaptavam coberturas nas carroças protegendo-se do sol e da chuva durante o percurso que demorava umas horas até ao destino. Levavam comida, frango e coelho frito, peixinhos da horta, sardinhas albardadas, entre outras iguarias. Nas carroças ainda tinham espaço para a comida dos animais, além de dormirem nas mesmas, os mais novos deitavam-se numas estruturas improvisadas superiormente nas carroças, enquanto os adultos ficavam por baixo, tapando os corpos enregelados pelas geadas em mantas de trapos. Do meu pai, também tenho histórias desta feira, da aldeia do Vale das Mós, também ela visitada pela biblioteca ambulante, partia com a avó em dois burros, nos costados dos animais, alforges contendo queijos para venda na feira. Histórias de gente que trabalhava muito, tinham pouco dinheiro, o salário, só o recebiam quando os grandes lavradores, vendiam as searas, a azeitona e tudo o resto que a terra dava. Havia meses que escapavam com o que as pequenas hortas ao redor das suas casas geravam, alguma criação doméstica, ainda assim, entusiasmavam-se pelas charnecas dentro, enfrentando os elementos naturais, animais selvagens, para vender, para adquirir, bens necessários para o resto do ano. Muitos, como mencionei, ao encontro do amor, instituir novas famílias, criar mais mão de obra. Muitos destes caminhos, actualmente são estradas, nas quais a biblioteca ambulante não se cansa de acelarar, umas vezes depressa, outras vezes devagar. O viajante das viagens e andanças, já perdeu o número de dias a dar histórias, o importante é que continuam a acontecer, que se percam nas memórias do termpo, é essencial que os mais novos, os que ainda nascerão, partilhem mais tarde, as histórias que viajavam numa biblioteca ambulante pelas aldeias da sua terra.