Tudo não passa de um acto
A carrinha de caixa aberta, avança lentamente no asfalto, adiante da biblioteca ambulante nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, dá sinais que vai desfalecer, a abarrotar de sacas cheias de azeitona, progride na mesma direcção das histórias, a aldeia da Chaminé, onde nesta altura o seu lagar não tem descanso. A sua fama de produzir bom azeite, suplanta os limites da freguesia onde está instalado, de quase todo o conselho chegam azeitonas para serem esmagadas e despegarem o seu precioso líquido. As histórias ainda não se desagarraram das prateleiras, é difícil apanhar azeitonas e ler ao mesmo tempo, quando esta actividade rural for interrompida por não haver mais azeitonas nas oliveiras, todo o azeite depositado nas vasilhas, e a azeitona preparada e curtida para se poder comer nos próximos meses, recomeçam as visitas à biblioteca ambulante. A fila aproxima-se do início da aldeia, tractores, carrinhas, carros, camionetas, aguardam pela sua vez, entregam um dos estados da matéria, o sólido, levam outro estado da matéria, o líquido, afinal tudo não passa de um acto da física.