Um vaivém de esperanças...
A cortina vulgar de nuvens suspensas, enfiadas numa vara horizontal imaginária, não deixa o céu azul espreitar, mas permite ao sol fincar os raios na biblioteca ambulante e na aldeia de S. Facundo. Na rua principal, um prédio está a restabelecer-se nas mãos de operários a colocarem rejuvenescimento na fachada exterior do mesmo. Este, irá acolher uma família jovem que trocou a cidade pela aldeia, o vento vai trazendo aqui e ali, noutras aldeias, sussurros de aquisições de outros prédios vagos, por gente de outras cidades, de Lisboa. Aparecem ao fim de semana, recuperam interiores, paredes, arrancam ervas nos espaços envolventes. Desaparecem durante cinco dias, regressam trazendo mobília e ajustes necessários ao conforto, um vaivém de esperanças. Um dia poderão ser leitores na biblioteca ambulante, possuírem habilidade a caminharem na charneca, aprenderem a olharem os animais e as aves silvestres. Conhecerem plantas e odores florais, serem aldeões da cabeça aos pés, não ficarão diminuídos pela nova identidade, não serão mais que os seus antepassados. Fundadores destas pérolas erguidas na arte de construir e decorar de formas populares, e refugiados em terras estranhas, a tentarem esquecer a pobreza, procurando trabalho e melhores condições de vida nas cidades litorais. Serão estes novos ocupantes os salvadores da morte certa de muitas aldeias a agonizarem por falta de pessoas no interior, não sei, poderá ser uma onda só, num mar deserto de população. O rosmaninho de cor arroxeada encurrala a estrada lateralmente, e promove a frescura no pensamento do viajante das viagens e andanças, não passa disso mesmo.