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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Uma caneta incansável ...

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A manhã quase a chegar ao termo do crescimento e nós metidos onde todos os dias se negoceia a escolta  do peixe, e da carne nos pratos das refeições. Com espaço ainda para café e bebidas frescas, sempre guiadas com boas conversas, foi o que viemos estimular. Uns estão sempre, cada vez que a biblioteca ambulante aqui permanece, apareceram outros para ouvir a leitura da história. Devagar, como se adicionassem pequenas moedas para pagar o pão, os ouvidos interiorizam as palavras, o curso das frases inicia o sentido, os intervalos dos goles que matam a sede prolongam-se. A história avança, o silêncio instala-se, quem entra de rompante, o hábito de ir na direcção das prateleiras onde está o acompanhamento, ou das arcas frigoríficas, onde sabia bem estar, ter com o peixe e a carne, esbarra com tamanha concentração. A voz não se cala, continua a libertar saber, emoção, aqueles rostos transmitem satisfação pelo que estão a ouvir. No final foi a vez deles de intervirem, têm conhecimento de alguém assim, a memória ainda é a mesma, vêm à tona lembranças de quando eram pequenos... Não foi muito tempo, mas o necessário para os tirar do quotidiano, pô-los a reflectir de um problema que todos nós não estaremos livres de o ter. A história lida foi " O avô tem uma borracha na cabeça ", escrita pelo Rui Zink. A biblioteca ambulante ao contrário da borracha é uma caneta incansável a escrever a sua passagem nas aldeias da minha terra, a cimentar histórias.