Único leitor da aldeia ...
Todas as vezes que chego à sua aldeia, está sempre sentado com o saco das histórias aos seus pés, encontro-o com o tronco curvado e olhar errante, quase sempre é esta a postura. Hoje cheguei primeiro, entra colocando o saco no pequeno balcão, imediatamente retira o cartão de leitor, como se não soubesse eu o nome do único leitor da aldeia, dirigi-se para as histórias como quem vai à fonte matar a sede. O assunto da conversa é sempre a horta, a escassez de chuva para engrossar a pouca azeitona existente. A crueldade do sol para muitas culturas, pouco se tirou daquilo que a terra tentou dar de boa vontade, diz ele. Volta a pôr o cartão e as histórias novas no saco, sai como entrou, agora na direcção do pequeno café para ir beber um copito, segundo ele. No café depois do almoço, não está, mas podia estar a população da aldeia ali concentrada, sentados, encostados ao balcão, na obscuridade, não se pode desperdiçar electricidade, não se percebe o que falam, lamentam-se das medidas de apoio que estão para vir no próximo mês, é uma possibilidade. Fez-se silêncio quando entrei para deixar as notícias da nossa terra.