Vindo não sei de onde
O vento despertava a água, injuriada formava pequenas ondas que cruzavam a superfície esverdeada do rio, acabando por se despedaçarem umas nas outras e na margem. A temperatura era assim mascarada pelo ar em movimento. Quem estava exposto a estes elementos, não passava despercebido ao que acontecia no rio. Um indivíduo envergando um colete, calças, na cabeça um chapéu tradicional marroquino, óculos de sol no rosto não parava de se exibir em cima de uma pequena prancha, impulsionada por um motor eléctrico. De pé, encurvado ou mesmo de joelhos, não parava de se atravessar defronte a quem estava estendido nas toalhas a receber o sol. Em cima acompanhando este equilibrismo um drone pilotado por alguém na margem registava o exibicionista, o meu pensamento corria para que houvesse um deslize e tudo terminasse, quando o convencido se precipitasse nas águas cálidas. Não tive esse privilégio, ele demonstrava grande habilidade, com um comando numa das mãos, impunha velocidade ou forçava a prancha a elevar-se, tal e qual Aladino no tapete voador, afastava-se a grande velocidade, para retornar pouco depois. O que seria uma manhã de mergulhos, de barriga para cima atraindo os braços brilhantes do sol, lendo o jornal, continuando a nova aventura de Tomás Noronha, este personagem vindo não sei de onde modificou a rotina das manhãs de verão no rio.